São Paulo, 15 de novembro de 2020.
Hoje eu queria falar sobre coisas leves, tipo suspiro. O doce e o que sai pelo nariz. Mas, eu to mais para gelatina de morango tremilicando num formato esquisito.
Voltei da Finlândia. Cheguei domingo de manhã em São Paulo. Fui recebida pela minha amiga (a Maísa que eu falei outro dia). Ela ficou morando na minha casa durante esses dois meses. Mas não é sobre isso.
Fora de sintonia
Parece que foi só chegar em São Paulo que o meu cérebro resolveu entrar num modo pertubação. Não sei se é porque realmente tem muita coisa acontecendo agora ou se essa cidade tem mesmo um tempo só dela que é hiper acelerado.
Sinto como se estivesse entre duas estações de rádio: escuto um pouco da Nova Brasil (se conhece, leu cantando) e um pouco da oitenta e nove (Rádio Rock), ao mesmo tempo. A última vez que eu ouvi Cranberries foi no Karaokê, mas não sei se essa música é Linger ou, pera, acho que isso é uma propaganda de Seda, shampoo e condicionador.
Esse barulho me dá vontade de desligar com tudo.
Como essas rádios se sobrepondo, não consigo entender nada muito bem.
Microondas
Estava pensando na maravilha que é ter um microondas. Eu não tinha microondas e a Maísa deixou um de presente para mim. Ela, que não é boba nem nada, comprou um para passar esses dois meses aqui em casa.
O microondas me colocou para girar numa reflexão sobre praticidade e eu fiquei pensando no quanto eu me acho prática (por não ter microondas já que o fogão também esquenta), mas na verdade é ele que deixa tudo mais prático, evita sujar louças. Agora eu esquento até o café que eu esqueci de tomar e dá mais vontade de aproveitar o que já tenho pronto na geladeira.
Antes de aprofundar essa questão da praticidade, me lembrei do que eu aprendi (também na cozinha, reparem) vendo meu namorado fazer o almoço para nós dois em menos de 30 minutos. Eu não. Eu não consigo ser rápida assim. Quero primeiro limpar tudo antes de preparar o almoço. E esse jeito dele de simplesmente ir fazendo as coisas me fez perceber que é realmente ele quem usa a cozinha. Ele que manda.
Ainda não consegui entender muito bem esse meu pensamento, mas ouvi algo lá no fundo me dizendo que parece que eu vivo mais para cuidar da cozinha do que para usá-la, afinal. Está meio vago, eu sei. Esta é uma tentativa de que alguém entenda o que eu estou tentando dizer e me diga depois.
Piscina
Sábado à tarde decidi ir na piscina do prédio porque eu voltei das terras nórdicas faminta por um raio de sol bem quentinho (e não tinha me bastado o que eu peguei a caminho do mercado).
Fiquei enrolando pra descer, deu 15h38 e o tempo fechou. Como ainda tinha um mormaço, desci assim mesmo. Lá embaixo, o sol sorriu pra mim. Sorri de volta e tentei sincronizar meus pensamentos. Saí do celular depois que postei uma selfie que parece que estou sem a parte de cima do biquíni.
[ quem vê cara não vê o cérebro fritando as ideias ]
Fiquei um tempo tentando não pensar em nada. Mas aí chegou um moço na piscina e começou a limpar a água. Fiquei prestando atenção nele. Acho que ele era gay porque é raro hétéro que usa sandália cor-de-rosa. Isso não é da minha conta, mas fiquei me perguntando por que homens não usam essa cor tão linda. Alguém avisa que não vai cair o pinto.
Minha cabeça começou a zapear de novo: será que sou preconceituosa porque achei que ele é gay? Será que consigo nadar durante a semana? Na hora do almoço? Tenho a impressão de que homem conta vantagem e mulher conta desvantagem, isso é verdade? Por que raios eu não falo as coisas que eu realmente quero e deixo que outras pessoas façam escolhas por mim? Eu uso tarot com ferramenta de auto conhecimento ou muleta para ansiedade?
É melhor eu entrar na água.
“O calor é um mistério. Ele de certo modo nos cura e nos gera. Ele é quem solta o que está preso demais, propicia o movimento livre, o misterioso impulso de ser, o primeiro voo das ideias novas. Não importa o que o calor seja, ele aproxima as pessoas cada vez mais. (...)
Amigos que a amem e que tenham carinho pela sua vida criativa são os melhores sóis do mundo. (…) O cuidado e o carinho levam a mulher de um lugar para outro. Eles são como cereais matinais psíquicos”. Clarisse Pinkola Estés.
Se você leu até aqui, obrigada por ser meu cereal matinal psíquico.
Bom domingo, gente cheirosa.
Até semana que vem.
Concordo plenamente! São Paulo causa essa inquietação mesmo, é um misto de asfalto com plantinhas de supermercado. A gente quer ser tudo ao mesmo tempo.