Helsinki, 4 de outubro de 2020
Começo
A escrita é uma tarefa solitária, assim como a leitura, na maioria das vezes. Embora tenha evitado escrever sobre a pandemia do coronavírus que atrapalhou tantos planos em 2020, preciso mencionar pelo menos aqui neste começo porque ele é uma das coisas que o isolamento social ajudou a acontecer.
(Por mais que eu seja de limonadas, nunca diria que teve um lado bom da pandemia. O Covid-19 é cruel e expôs ainda mais a vulnerabilidade em que vivemos no Brasil, cujo governo pinta e borda sem dó nem piedade. Mas essa não é minha pauta, isso é apenas um parêntese).
Este começo aconteceu principalmente porque estou trabalhando remotamente. Usei boa parte das 280 horas em que não estive no metrô para escrever. E escrevo de Helsinki, porque estou mudando para cá, por motivos de amor.
Histórias de escritores frustrados
Adoro histórias de escritores. Sempre começam com alguma frustração sobre a escrita, às vezes um bloqueio criativo ou o fato de suas criações serem muito ruins. Talvez tenham histórias boas e bem escritas e mesmo assim não conseguem. Fazer o quê.
Entendo um pouco dessa melancolia, embora ainda não me considere escritora mesmo, sabe? Escritora é quem já publicou algo? Eu não publiquei. Nunca nem tentei nada além das redes sociais ou blogs. Se me perguntarem se sou escritora nunca responderei SIM, EU SOU, vou dizer assim: escrevo para amigas e amigos, no Instagram e recentemente criei uma newsletter.
Voltando às desventuras de escritores, gosto também dessas histórias porque costumam ser hidratadas por líquidos que amo: chá (um clássico), café (mais tradicional) ou vinho (boêmio). Engraçado como esses frustrados conseguem sucesso após escreverem sobre seus próprios infortúnios e acabam dando certo e transformam-se em Best Sellers, filmes ou séries do Netflix.
Isso me causa um pouco de inveja, mas também tenho um pouco de preconceito. Tanto que quando me pego pensando em um texto sobre a minha própria escrita, me faço esquecê-lo. "Isso é para os rasos, que não têm nada a dizer", meu cérebro me diz.
Será que essas histórias fazem sucesso porque todo mundo gostaria escrever também? Ou apenas se identificam com as desventuras e portas fechadas e conseguem adaptá-las ao contexto de suas vidas? Sinceramente, não sei.
Eu, por amar tanto a ideia de que a escrita é uma conversa que pode habitar o outro, me identifico com esses escritores que sonham em habitar o mundo com suas histórias. É uma sensação de expansão, de poder viajar e falar com tantas pessoas. Quando alguém lê algo que escrevi, para mim, é o ápice da conexão. É como fazer uma amizade desconhecida que habita apenas aquele lugarzinho do texto, mas que mesmo assim pode ser imensa.
Se você chegou até aqui, muito obrigada!
Um ótimo domingo e até semana que vem. 🥐🥂
tass
Acho que a gente tende a se comparar tanto com o outro e vai deixando de fazer muita coisa. Deixa de tentar aprender matemática, porque alguém aprendeu com maior facilidade ou assim pareceu. Deixa de escrever porque julga a escrita de alguém muito melhor, embora grandes escritores tenham começado antes dos 15. Deixa de desenhar porque acha feio o seu traço e já cria mil críticas sobre o seu próprio desempenho, porque alguém faz algo muito mais elaborado, como se isso fosse automaticamente mais bonito. Fazer o que a gente quer é um ato de coragem, o mundo tá prontinho para tolher a gente e nos transformar em máquinas tristes que repetem movimentos preestabelecidos.
chás 💚