3 minutos de leitura — música para dar play enquanto lê e para animar o domingo.
Me recusei a ter crises de depressão no país mais feliz do mundo. Culpei a Lua em Áries, culpei Marte numa posição de conflito, um ângulo estranho de Escorpião. Culpei o eclipse. Mas não eram os astros. Talvez, seja culpa do Transtorno Disfórico Pré-menstrual — descobrirei nos próximos meses com ajuda profissional.
* pausa dramática *
Pela primeira vez, tomei coragem e marquei uma consulta com uma psiquiatra. Fui cheia de preconceitos e “não vou tomar remédio”, mas fui. As crises de depressão — tristeza, fadiga, falta de vontade e sentimento de ruína — me obrigaram. Será que sonhos e projetos estão sendo boicotados por problemas químicos do meu cérebro? Certeza de que algo está errado. É como se eu voltasse nove passos a cada dez. Não completo o circuito, não consigo selar decisões. Não passo de fase.
Enquanto aguardava o dia da consulta, fiz todas pesquisas que pude. Isso me deixou mais tranquila, e até esperançosa, como se a médica fosse um óleo nas minhas juntas emocionais travadas. Para não deixar os pratos caírem de uma vez, apoiei na bancada. Cancelei várias atividades porque estava incerta. Cancelar compromissos para cuidar do emocional é como dizer em voz alta: eu me importo comigo. Eu me vejo. Sensação de autocuidado, reconfortante.
Afinal, dei sorte: conheci uma psiquiatra compreensiva, que me ouviu por mais de uma hora e respondeu várias questões sobre gatilhos e episódios depressivos. Não fui diagnosticada com nenhuma doença, mas consulta me remeteu a um mini conto chamado “Chegou o dia” que publiquei dias atrás. A história fala de uma mensagem que não é completada e, por não conseguir entender o recado, a personagem acredita que enlouqueceu. Embora não estivesse claro quando escrevi, é como tenho me sentido: bloqueada, impedida. Meio perdida.
É que os episódios depressivos embaralham as peças, fazem duvidar do que gosto, do que quero, do que amo fazer. O resultado é a alma ferida por não fazer o que deseja. Caí nessa armadilha. Minha alma silenciada ficou triste, endureceu para o que gostava. Silenciada, esquecida.
Talvez os episódios depressivos sejam uma forma de espernear. Finalmente ouvi. Numa retomada em marcha lenta, ao invés de tentar decifrar o lugar tenebroso, faróis acesos iluminam o que dá prazer. Prazer. Sentir prazer. Para saber o que a gente gosta é preciso observar o prazer proporcionado e aprender a senti-lo, apreciá-lo sem culpa. Sentir prazer só pelo prazer. Sem nenhum outro propósito além do deleite. Para o inferno, produtividade! Minha alma não te quer aqui.
Mas, como identifico prazer sob uma nuvem escura e pegajosa? Tem uma nuvem densa e pesada que enrijece os movimentos. Ela atrapalha o sono e o despertar. Não deixa dormir, e nem levantar da cama ao amanhecer.
Meditar, tomar remédios, sair para correr, fazer uma oração, escrever — a lista é infinita. Fazer o que for preciso para limpar a meleca deixada pelos pequenos gatilhos. Do contrário, vira uma graxa suja, gosmenta, depressiva. E é preciso estar atenta. Nos dias mais vulneráveis, a meleca cresce mais rapidamente. Fico de molho para dissolver e mando uma mensagem para os anjos da guarda, porque eles sempre lembram o que a minha alma precisa.
Em loop infinito.
Logo eu que amo um drama, mas recuso a tristeza. Minha alma é alegre e boba.
Bom domingo e até semana que vem!
Tássia
Tenho sentido que um pedaço de mim não conseguiu me acompanhar enquanto eu caminhava nesses recentes três anos. Mas sei que uma hora ele vai me alcançar. Tudo de bom pra você. 🙌
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💜 só quem olha muito pra dentro consegue ver isso