Brasília, 2 de maio de 2021.
eu sempre quis ser autêntica e sempre me incomodou a autenticidade porque é chato ficar se explicando. As pessoas olham, perguntam se é seu cabelo mesmo, onde você viu, onde comprou, se vestiu do avesso. No manual da autenticidade (espero que exista) é certo que tem um capítulo explicando como sobreviver aos olhares das pessoas normais tão curiosas e atentas e preocupadas com o lugar para onde a nossa autenticidade vai nos levar.
Será que ela aparece assim na entrevista de emprego? — a vizinha pergunta para o porteiro.
quando eu era adolescente e não tinha outra opção além de ser uma pessoa esquisita, lembro que a mãe de uma amiga do colégio não queria que a filha dela fosse vista perto de mim, já que eu tinha um piercing na sobrancelha e portanto nenhum futuro promissor. Bobo, né? Mas no fundo eu gostava, porque aquele piercing estampava no meu rosto a minha necessidade de me diferenciar e a dona fulana foi a evidência de que estava funcionando.
tentando entender por que qualquer tentativa de autenticidade incomoda tanto, achei um palpite: deve ser porque quando eu digo que não quero parecer com o senso comum, o senso comum fica chateado, sabe? Ego ferido.
Ué, por que você não quer ser como a gente? Não somos legais para você? — questionam os olhares atravessados.
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talvez seja realmente isso que faz com que cortemos as nossas próprias asas quando decidimos voar, ao invés de caminhar como todo mundo. É para evitar olhares que vão de cima a baixo queimando qualquer risquinho de autenticidade que a gente deixou escapar. E é também pelo medo de não ser aceita, ou de ser cancelada. É para caber. E é por isso que às vezes a gente se sente apertada, desconectada, inadequada.
vamos desfazer os ajustes hoje pela manhã.
🥐🥂
bom domingo,
e até semana que vem.
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