Brasília, 28 de março de 2021
eu e as mulheres da minha família somos todas ex-crentes (amo essa expressão hahaha) e amamos falar sobre como as religiões cristãs são cheia de concepções criadas para domesticar os seres humanos desde antes da data que eles dizem que Jesus Cristo nasceu. Outro dia, reunidas à mesa (a gente ama comer!) minha tia serviu um assunto que me pegou: ninguém precisa perdoar ninguém, não.
antes mesmo de refletir, já senti um peso indo embora. Nem tenho nada de ninguém para perdoar, mas só de saber disso já fiquei leve. Quando comecei a pensar e pesquisar para entender mais sobre as tantas coisas que envolvem perdoar, percebi que o meu entendimento sobre perdão estava meio distorcido. Talvez eu sempre tenha feito uma interpretação meio rasa do que eu sabia.
meu voto é "tanto faz”
o perdão é uma atitude encorajada na bíblia. Jesus perdoou seus inimigos. "Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra", diz o livro de Lucas, 6:29. Perdoar é sobre compreender, acreditar e aceitar o arrependimento de quem feriu como uma borracha no que aconteceu. Perigoso isso, né?
errei e aí
eu erro, tu erras, nós erramos. Tem errinho, tem erro gigante, tem coisa que claramente é feita sem intenção de machucar, tem coisa que dizem ser imperdoável - decide quem está ali na posição de clemência. E quem sou eu para afirmar qualquer coisa, né? Mas o cristão faz diferente. Ele diz logo que você tem que perdoar o que quer se seja porque, se você não perdoa os teus inimigos, Deus, memético, não te perdoa também. Ele fica de mal de ti e te castiga.
e o arrependimento?
acredito nele, afinal, me arrependi amargamente de ter esquecido na quadra do colégio a mochilinha de tigre da minha irmã, em 1996 (ela perdoou, mas nunca esqueceu - satanáries!). As pessoas erram e as pessoas mudam o tempo todo, ainda bem - e aí que vem o pulo do gato: muito provavelmente o único perdão que vale a pena é o autoperdão. Quando eu me perdoo, eu estou aceitando do fundo do coração que não sou um ser humano horrível. Eu me perdoo quando entendo que errei motivada por algo que eu vou cuidar para que não se repita.
o arrependimento - se tiver evidências reais - pode tornar o erro digno de perdão e também amenizar a dor de quem foi ferido. Ele é de quem errou e é o que alimenta o autoperdão. Tem quem use o arrependimento e o perdão como forma de se isentar da culpa e até acabe minimizando o próprio erro: se a criatura ferida me perdoou, então tá tudo bem.
esqueço mas não perdoo
quem sofreu, pode esquecer, se for de esquecer. Se não, pode passar a vida toda remoendo. Não vai fazer bem, mas cada um tem direito de lidar como quiser com o que lhe acontece. É melhor do que ficar tentando aceitar o arrependimento do outro como pagamento para zerar a dívida. É aqui que tá: pode até ser bom perdoar, mas se não quiser, não precisa. A pessoa que errou pode implorar por perdão para ajudá-la a se perdoar também, mas quem apanhou perdoa se quiser, ou se acreditar em deus.
eu to tranquila.
beijos e bom domingo!