⏰ 6 minutinhos de leitura. O áudio é mais longo porque eu me empolguei contando a história.
👋✨ oi! eu sou a Tássia
essa é a minha newsletter semanal. O texto de hoje é sobre a lagosta da carta da Lua, do tarô. Depois que escrevi, pensei mais uma coisa: o patriarcado mora nas cascas duras e é muito bom que a gente entenda que podemos nos desfazer delas.
boa leitura!
Ah, se quiser ouvir, tem o áudio aqui (eu me empolguei, por isso o áudio tem 13 minutos).
Esqueci o que eu ia falar. Fiquei insegura e deu branco.
Fiquei nervosíssima numa reunião, na sexta-feira passada. Meu cérebro não conseguia organizar um fluxo lógico para dizer o que eu precisava. Ficou tudo escuro e embaçado.
Foda. Quando eu tinha treinado na frente do espelho, o texto tava na ponta da língua.
Um detalhezinho me fez virar a chave.
Sempre que tem alguma coisa importante, eu tiro uma carta do meu tarô Rider-Waite-Smith (ideia terrível). Naquele dia, eu saiu a Lua. 👀
Antes do Benjamin Franklin descobrir a eletricidade, em 1752, você tinha que usar seus instintos e velas para enxergar à noite.
Na carta da Lua é assim: o mundo material está borrado. Está escuro lá fora, e a intuição é o único GPS. Para reconhecer o solo, tenho que me conectar com o meu eu interior. Só tem um detalhe: não estou conectada à minha intuição o tempo todo (até parei de reclamar da Claro) e não sei como fazer isso rapidamente.
Naquele dia, a carta da Lua me deixou ansiosa. É isso.
Abrir o tarô em cima da hora foi uma péssima ideia. Agora que passou, achei uma boa entender melhor essa carta e finalmente descobrir…
… o que raios a lagosta está fazendo ali.
Para onde ela está indo? É uma lagosta mesmo? (achei que fosse um escorpião 🤡)
Lua-vai iluminar os pensamentos dela. Fala pra ela que sem ela eu não. Viver sem ela é meu pior castigo.
Ou seja, se tá olhando pra lua, confia no seu interior. Expectativa é combustível, e não sinal. E o medo é malicioso, cuidado com ele.
Você sabia que estou criando o Casual Tarot? Está ficando lindo 💖
A carta da Lua que ilustrei é sobre medo e ilusão.
Antes de falar da lagosta, queria esclarecer dois pontos:
O medo é bom para entender e investigar o que sentimos. Ele geralmente vem com vergonha, inveja e pensamentos críticos (não vai fazer papel de trouxa). É ele que atrasa os nossos sonhos. Pode ser um trauma que se tornou uma falsa verdade.
A intuição é totalmente diferente. Enquanto o medo nos torna menores, a intuição nos faz grandes – mesmo quando é uma decisão negativa. Sabe quando você decide não ir a uma festa e fica secretamente aliviada? Quando nossa intuição está falando, nos sentimos satisfeitas.
ALÔ, LAGOSTA
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Minha terapeuta me disse para sempre prestar atenção ao que misteriosamente chama minha atenção, porque esses interesses repentinos geralmente trazem uma mensagem. Naquela época, eu estava obcecada por vulcões. Agora, não paro de pensar em lagostas. Mas não lagosta na manteiga, tá? Eu queria uma lagosta de pelúcia, ou uma bolsa com formato de lagosta, ou brincos, camiseta. Quem sabe uma tatuagem?
Continuo sem nada disso, mas tenho lido sobre esse crustáceo incrível e tentado entender a mensagem escondida. Um amigo me indicou o texto “Pense na lagosta”, do David Foster Wallace depois de ver meu post no Instagram sobre isso.
Fiquei até achando que a lagosta está me dizendo para finalmente ler Infinite Jest porque eu vi esse livro na biblioteca outro dia e ele ficou me encarando.
Wallace vai da história à cozinha e traz muito sobre culinária (e sobre como a coitada da lagosta se debate na panela quente). E ele observa que as lagostas se tornaram comida por volta de 1800, dois séculos depois que o tarô se tornou popular – por volta do século XVII.
Segundo um mito bengali, a lagosta é um enviado do Sol para trazer a Terra do oceano profundo. E também tem uma história de que lagosta está lá porque, como a lua, ela se move para frente e para trás — o que eu respeitosamente discordo — mas quem sou eu, né?
A história que mais me convence é o mito grego do “Segundo Trabalho de Hércules”: Hércules estava lutando contra a Hidra (um monstro com corpo de cobra e nove cabeças!). Hera decide atrapalhar o coitado e envia Carcinus, um caranguejo gigante, para morder o pé de Hércules. O caranguejo tasca-lhe a bicada (não é bico, mas vocês entenderam) e toma uma paulada na cabeça. Hera fica com dó de Carcinus e cria a constelação de Câncer para homenagear, já que ele veio a óbito.
MAS AS COISAS MUDAM, MINHA GENTE
Uma lagosta pode sobreviver até 36 horas fora da água, porém se ela está fora da água, é muitíssimo provável que ela esteja a caminho da panela.
Tradução: “Se você come uma LAGOSTA lembre-se de uma coisa, se você não comê-la ela viverá para sempre. Minutos na sua boca uma vida inteira encharcada de eternidade.”
É verdade que as lagostas não apresentam sinais típicos de envelhecimento. Para elas, a vida segue como um baile sem hora para acabar. Até que acaba.
Se sobreviver à cozinha, ela chegará aos 100 anos.
Mas, o aprendizado mais profundo que esse crustáceo me ensinou nessa pesquisa curiosa é que eles são um símbolo de regeneração. As lagostas descartam todo o seu exoesqueleto quando crescem. Elas trocam para poder continuar crescendo. Deixam para trás a crosta resistente para começar de novo, com uma mais flexível que lhe permite crescer.
Isso me pegou.
Fiquei revendo esse vídeo pensando nisso.
As nossas estruturas rígidas nos atrapalham. E eu sei quais são os aprendizados enferrujados que impedem o meu movimento? Não sei.
A carta da lua é sobre isso também, é sobre essas falsas-verdades que não nos deixam ver a realidade e que barram a nossa renovação e crescimento.
Tá, mas por que a lagosta está saindo da água?
Acho que ela não deveria. É uma armadilha. Aliás, o deck Wonderland Tarot explica bem isso.
P.s.: não esqueci do cachorro e do lobo. Eles representam nossos aspectos domésticos e selvagens e até me fizeram pensar em Mulheres que correm com os lobos. Quem sabe falaremos disso depois?
Até mais,
Tássia
Obrigada você que leu até aqui!
Este texto já tinha sido publicado em inglês, mas resolvi trazer para cá também.