De volta a São Paulo, 28 de fevereiro de 2021.
quando eu tenho um momento de epifania e acho que estou descobrindo o mundo eu ligo para a minha mãe. Outro dia, a caminho do hortifrúti, bateu aquela onda forte e eu liguei imediatamente para contar que nunca mais na minha vida eu iria agir baseada no medo - esses momentos são sempre dramáticos. Decidi que a partir daquela hora minhas ações só iriam atender às demandas que me fizessem uma pessoa mais feliz .
minha mãe estava meio ocupada entre a louça do almoço e o cafezinho e talvez não tenha entendido exatamente do que eu falava. Nem eu sabia direito. Estava só sentindo essa mudança cutucando que nem aquele incômodo no sapato que a gente demora a entender que é uma pedrinha.
do que eu estou falando
por causa da pandemia e do trabalho remoto, percebi que morava numa casa super barulhenta. Na frente da minha janela tinha uma ladeira íngreme, daquelas que os motores dos carros passam esperneando. E não tinha hora para acontecer: era caminhão de lixo logo cedo e motoboys a qualquer hora da noite. Também não dava para dormir direito, eu e a Zeldinha vivíamos acordando no pulo.
montar uma casa completinha dá trabalho. Mas, ao invés de priorizar a geladeira e a cama box, eu tinha que colocar mais peso no meu bem-estar. Queria ter tomado a atitude de mudar assim que percebi isso. Mas, não. Precisei fazer pesquisas e mais pesquisas sobre barulho e ouvir da minha psicóloga que estresse, cansaço e pensamentos negativos poderiam estar sendo causados pelos picos de cortisol (que o barulho poderia estar liberando no meu corpo).
demorei para entender que abrir mão de alguma segurança era a chave para o meu bem-estar. Foi isso que eu estava tentando dizer no telefone naquele dia, mãe. É que as decisões não deveriam atender às nossas preocupações com os objetos, com o contrato, com a possível dificuldade de achar um novo lugar para morar. A decisão deveria se basear, antes de qualquer coisa, no que vai me fazer mais feliz. E ponto.
e fiquei pensando em tantos outros momentos da minha vida que eu escolhi o medo. Quando preferi o mais seguro (mesmo que não fosse o dos meus sonhos), ou o mais barato (mesmo que não fizesse meus olhos brilharem), ou o mais básico (mesmo que não fosse expressar quem eu sou), ou ainda o mais rápido (mesmo quando a pressa nem era minha). E todas as vezes que eu fiz isso, eu deixei um pouquinho de ser feliz.
agora não mais.
🥂🥞🍓
bom domingo, minhas queridas.
até semana que vem.