Helsinque, 25 de outubro de 2020
Sabe do que me deu vontade essa semana? De ir ao bar com as minhas amigas, juntar as mesas, pedir uma Original, falar alto e dividir com a Ana o último pastelzinho de carne seca com abóbora (a Marcella não vai querer porque agora é vegetariana).
Aprendi tarde que amo ter amigas. Sempre fui a amiga meio distante, nunca fui de dizer para as minhas amigas que as amo. Recentemente descobri esse amor. Ainda bem.
Não sei porque demorei tanto para entender isso, pois eu sempre tive uma excelente referência: minha mãe. Ela tem tantas amigas e, minha nossa, como as amigas a amam e elas as ama de volta. É lindo de ver. Ela sente saudade e volta para visitá-las sempre que dá. Se perguntar do que ela mais sente falta depois que mudou de Gravatá para Brasília, tenho quase certeza de que vai responder: “minhas amigas e o jardim da minha casa”.
Uma vez, em São Paulo, minha mãe encontrou uma amiga que não via há anos. Estávamos juntas passeando pela cidade e encontramos a amiga dela lá perto da Paulista, na Pão de Ló. Antes, eu lembrava da Pão de Ló pelo palmier delicioso que eles fazem, agora eu me lembro de lá por causa dessa tarde.
Eu não fazia parte daquele encontro, mas ele me marcou de um jeito irreversível. Assim que se viram, os olhinhos brilharam. Elas se elogiaram, lembraram das histórias, contaram sobre absolutamente tudo. E como estavam interessadas sobre o que tinham para contar! Dava para ver que uma realmente queria saber da outra. Se abraçaram e tiraram foto para recordar daquele momento.
Depois desse dia, fiquei mexida, sabe? Pensei em todas as amigas que não cativei. Sempre fui ruim de cultivar amizades. Minha irmã, assim como minha mãe, sempre foi ótima em guardar amigas para sempre.
Morei mais de 10 anos em Gravatá e conto nos dedos de uma mão as amizades que ficaram. Pode uma coisa dessas? Sempre me senti meio por fora quando morava lá e é assim que explico o fato de não ter dado muita cola com as meninas.
Às vezes, eu até tento forçar uma amizade no Instagram com as amigas da época do colégio (Salesianas), mas não flui. Me sinto patética, porém não desisto. Vai que uma hora alguém resolve puxar papo, perguntar quando apareço, né? A resposta será “provavelmente nunca mais”, mas o que tem? Vamos ser amigas mesmo assim.
Para acabar de vez com as desventuras de amizades não cativadas, inspirada por aquela tarde com a minha mãe e sua amiga, comecei a me aproximar mais das minhas amigas e aceitar que gosto mesmo muito delas (para algumas tenho dito até que amo, e é verdade verdadeira). Importante: estou falando de amizade de mulher com mulher, não é qualquer amizade, não.
Ainda bem que tenho algumas amigas incríveis que nunca desistiram de mim mesmo eu sendo assim, meio fria, aquariana, coração gelado, sei lá. Essas são as amizades que tenho pensado a respeito e demonstrado o quanto são caras. Espero que estejam notando.
As amigas que conheci recentemente talvez tenham experimentado uma versão mais amigável de mim e nem sabem desse meu passado. Se estiverem lendo este texto, vão entender porque não tenho tantas amigas de longa data, embora todas já tenham ouvido falar da Maísa, minha amiga-irmã: nos conhecemos quando tínhamos 5 anos, em Natal. Hoje moramos em São Paulo e ainda somos muito próximas. Maisinha, eu te amo.
Por fim, deixo um trecho do livro A amiga genial, de Elena Ferrante, que a Ana que me indicou um tempo atrás e que provavelmente foi a inspiração para este domingo.
“É bom”, murmurei, “falar com os outros.”
“Sim, mas só quando você fala e há alguém que responde.”
Senti no peito um sopro de alegria. Que pedido havia naquela bela frase? Estava querendo dizer que só queria falar comigo porque eu não acreditava em tudo o que lhe saída da boca, mas respondia a ela? Estava dizendo que somente eu era capaz de acompanhar as coisas que lhe passavam pela cabeça?
E também uma cena de Lenu e Lila lendo o romance Mulherzinhas.
A série My Brilliant Friend, baseada no livro, está disponível na HBO, veja aqui.
Bom domingo e até semana que vem.
Tassia
Menina, sempre leio aos domingos teus textos, mas não tinha lido esse. Achei esvaziando meu e-mail. Engraçado é que sempre me senti assim com as amigas mulheres e tenho feito um esforço surreal pra mudar isso, pq realmente me incomoda muito. Na verdade, sempre tive muita dificuldade em demonstrar afeto e me sentia a estranha do rolê, sabe?! PS: amo te ler, é como se a gente estivesse pertinho, mesmo fazendo uns 12 anos que não nos vemos. A amizade é a mesma e a admiração é ainda maior <3 Que mulheeeeer
ai eu acho que vou querer pastelzinho sim!! HAHA eu AMO esse pastel e eu confirmei uma suspeita que já tinha: sou vegetariana safada de ocasião rs desde que cheguei em olinda estou me esbaldando em sarapatel e dobradinha e macaxeira com carne de sol <3 paladar afetivo minha desculpa (existe isso?!)
eu tbm sou safada nas amizades e muitas vezes tenho preguiça de falar e escrever (confissões), gosto mesmo é de encontrar, mas ficar trocando de cidade dificulta a vida (e as amizades). que bom então que tu gosta de escrever! haha eu gosto de ler e a gente se mantém próxima apesar da distância :*