Eu estava na quinta ou sexta série, tinha algo como 11 ou 12 anos. Era uma criança que já chamavam de mocinha. Eu não era a menina bonita do colégio, também não era a mais tímida e não lembro de ter sofrido bullying pela minha aparência. Nada de mais.
O colégio era católico e religião era a única coisa que me fazia diferente porque eu nunca fui batizada, embora estivesse lá fazendo sinal da cruz e rezando Ave Maria diariamente antes da aula.
Além de capela, missa e as freiras vestidas com seus hábitos, tinha também os meninos. Pois é. E tinha esse menino que eu não lembro exatamente o nome, acho que era Rodrigo, mas não o Rodrigo que foi o meu primeiro namorado. O Rodrigo que estou falando era um bem fora do padrão de beleza pré-requisito para qualquer adolescente leitora de Capricho e Atrevida. Ah, e acho que ele era uma ou duas séries a mais do que eu.
Naquela época, eram comuns os pedidos de namoro e mensagens de paquera chegarem por meio de fofoca, bilhetinho ou recado que alguém mandava dizer. Foi assim que recebi o pedido. Rodrigo queria namorar comigo. As opções de resposta para um pedido de namoro eram: “sim”, “não” e “vou pensar”. Respondi que não, afinal eu nem conhecia a criatura. Mal sabia quem era. O que ele esperava? Acho que pelo menos um “vou pensar”.
Imediatamente, o mensageiro correu de volta até o menino para dar o recado.
E aí, após ter recebido a mensagem negativa, Rodrigo me viu de longe na saída do colégio e gritou um audível “vai tomar no c*!”. Até hoje fico embasbacada de lembrar. Sem entrar nas questões de masculinidade tóxica que envenena os adolescentes, ainda mais daquela época, podemos dizer que foi, no mínimo, bizarro. Que menino esquisito.
Ainda lembro de olhar assustada, tentar entender se era realmente comigo e seguir para casa. Foi confuso e desnecessário. Fiquei com medo. Provavelmente nunca contei isso para os meus pais porque tinha medo da história se virar contra mim.
Nunca aconteceu nada, ainda bem.
Fiquei aqui pensando no que aprendi naquele dia: deveria ter mais cuidado ao dizer não. Se tivesse escolhido a resposta “vou pensar”, talvez tivesse evitado o perrengue e poderia dizer depois que meu pai não me deixava namorar (bem machista, eu sei). Mas imagino que a Tássia de 12 anos teria pensado assim, infelizmente. Eu me sentia culpada, inadequada, errada por desagradar um maldito garoto que tinha coragem de gritar comigo na frente da escola.
Eram assim os meninos do colégio. Filhos de amigas da minha mãe, de pessoas de bem. Crianças que estavam sendo educadas sob o olhar atento das irmãs e da Igreja.
Ano passado, se não me engano
Não faz muito tempo, me peguei numa situação parecida, mas a mensagem veio no Instagram. Um menino me chamou para ir à casa dele, algo assim. A minha resposta seria não, de novo.
Ao invés de falar apenas “não”, fiquei pensando no que responder. Será que ainda sinto um pouco do medo que senti de Rodrigo quando tinha 12 anos?
Ponderei culpar a pandemia para não desagradar, para ser boazinha, mas também não queria deixar margem para insistência. Respondi de forma amena que ia “pesquisar um jeito fofo de falar ‘não, obrigada’ porque ele é um cara legal”.
Na boa, ele pode até ser um cara legal mesmo, mas a verdade é que pensei nessa resposta fofa porque (mesmo em tempos de não é não) ainda tenho medo da reação de um homem ao me ouvir falar não.
Sigo treinando.
Até o próximo domingo,
Tássia
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