Pequenas alegrias e grandes negócios
Como ações concretas fundamentadas na alegria transformam o mundo. Mini blog: saindo do armário com Florence Welch & o Flautista Mágico.
A alegria esquenta
A gente sabe que algumas coisas alegram a vida — cores, flores, suco de tangerina, sorvete de pistache, parede colorida. Edi Rama, quando era prefeito de Tirana, capital da Albânia, sabia disso também. Em 2000, logo que assumiu o cargo, a cidade estava cinza-socialista, triste, caindo aos pedaços, cheia de construções ilegais, violência, grades de metal e lixo por todos os lados. A verba era de zero euros, mas ele conseguiu um investimento da União Europeia para pintar um prédio.
Edi Rama escolheu uma tinta cor de abóbora, para chocar mesmo. As pessoas da cidade paravam na frente para contemplar e tentar entender o que estava acontecendo. Com tanta coisa para resolver, este homem me pinta o prédio dessa cor? Isso mesmo, senhoras. Edi Rama tinha um pezinho na arte e sabia o poder que as cores têm de transformar o mundo.
Quando a aparência importa
Lado de fora e lado de dentro se transformam mutuamente. A metamorfose é líquida, escorre pelas brechas e vai alterando a estrutura. É por isso que a reforma cosmética de Tirana mudou as pessoas. Os moradores da cidade pararam de jogar lixo nas ruas, começaram a pagar impostos e a violência diminuiu mesmo sem mudar nada no policiamento.
A economia de Tirana foi melhorando aos poucos e foram feitos mais investimentos em prédios públicos. Edi Rama acredita que a estrutura dos espaços de burocracia favorecia a infelicidade e corrupção dos cidadãos. Ele contou essa história no TED Talks há 11 anos. Hoje, Tirana é uma cidade transformada, com prédios modernos e parques bem cuidados. A qualidade do ar e da água melhorou, há iniciativas para preservar o meio ambiente e, embora ainda existam desafios políticos, eles progrediram na consolidação de uma democracia.
É que é muito chato ficar reclamando.
Porém, desde que soube que ia para um novo apartamento, comecei a reclamar mentalmente do lugar onde morei nos últimos três anos. Foi meu marido quem escolheu pra gente — com cuidado e carinho. Talvez por isso nunca quis falar mal. Seria sacanagem da minha parte. Tá, no segundo inverno eu até abri o jogo: é escuro e não dá para abrir as janelas porque é muito perto da rua.
Enquanto me preparava para a mudança, percebi como o quanto não gostava. Claro que ainda amo o bairro descolado. É perto do museu de design, sabe? Mas, o novo apê me abriu os olhos para o quão desconfortável estava. Um sapato apertado que calcei por anos só porque não queria ser chata, ingrata, rabugenta. Como Edi Rama, decorei, comprei flores e um sofá verde.
No livro “As formas da alegria”, Ingrid Fetell diz que os psicólogos geralmente se referem a alegria como uma experiência momentânea que dá vontade de sorrir e dar pulinhos de contentamento. Não era bem isso que eu sentia no antigo apê. Se fosse descrever, diria calma & sono. Pela deusa! Como eu dormia. De volta ao livro, a autora lista o que ela chama de “estética da alegria” — padrões comumente associados com a vontade de pular que nem pipoca.
Esta é a lista, em tradução livre.
Energia: cores claras e vibrantes ⚡️
Abundância: exuberância, multiplicidade e variedade 🍇
Liberdade: natureza, selvagem e espaços abertos 🍃
Harmonia: equilíbrio, simetria e fluxo 💎
Diversão: círculos, esferas e bolhas 🛁
Surpresa: contraste e fantasia 🍄
Transcendente: elevação e leveza 🦋
Magia: forças invisíveis e ilusionismo 🧚🏻♀️
Celebração: sincronia, cintilante e formas estourando 🍾
Renovação: florescer, expandir e curvas 🐚
Teoricamente, tudo que causa sensação de alegria repentina tem pelo menos um desses elementos. E, quando falta, nosso corpo percebe. Uma bola de sorvete que pode ficar mais alegre com granulados coloridos. Um prato que fica mais alegre e saudável quando tem várias cores. Um terreno sem árvores é triste. Falta a interessância que desperta algo dentro da gente e provoca uma chama de esperança. O que está diante dos seus olhos pode ser mais do que se vê. Instantaneamente dá vontade de morder a vida para saber o gosto que tem. Ver com as mãos. Saber mais. Ou, apenas perceber a onda de inspiração vibrando, mesmo sem ter nome.
A alegria esquenta.
MINI BLOG — Saindo do armário com Florence & the Flautista Mágico
Foi no começo da semana passada que saiu a rainha de paus, a mulher criativa do tarô. Uma vibe Florence Welch.
No Tarô da Criança Interior, a rainha de paus é representada pelo conto do flautista mágico. O tal do flautista que espantou todos os ratos de Hamelin com uma música mágica. A cidade ficou feliz, mas o prefeito não quis pagar o serviço. “É dom, não é trabalho”, ele disse. Como se o flautista tivesse nascido sabendo tocar, como se não passasse horas aperfeiçoando, testando os efeitos do som nas pessoas e nos ratos. “Ah, é?”, disse o flautista. “É”, disse o prefeito. Puto da vida, o flautista tocou outra música — agora, encantou as crianças, a força criativa, colorida e alegre da cidade. Elas seguiram o flautista e criaram uma comunidade de criativos longe de Hamelin. Eles têm até TikTok.
Sentiu o drama?
Eu me senti como o prefeito de Hamelin desrespeitando minha força criativa, negando minhas vontades. Foi assim que resolvi renovar os laços de taróloga, porque tarô é arte de contar de histórias.
Quero transbordar tudo que penso sobre tarô e criatividade. Pintar o mundo — é isso que o tarô criativo pode fazer.
Vocês que me acompanham aqui são minhas testemunhas e minhas principais incentivadoras — algumas até minhas mecenas!
É isso, virei taróloga, meninas. Já podem marcar suas consultas.
Ainda tem mais vindo em breve. Desde já, obrigada por todo apoio! Está sendo uma delícia ter tanta gente vibrando por mim. Marquem suas consultas & indiquem para as amigas! ✨
Dando satisfação para quem me viu falando inglês
Alguns textos nascem no idioma estrangeiro. Com ele, posso acessar o que não está na internet, já que a minha volta não tem mais português do Brasil. O brunch segue em português, mas algumas coisas serão traduzidas. Se você gosta de ler minhas chorumelas de imigrante, é aqui, em inglês.
Que texto mais vibrante!! Eu que estou na missão pintar apartamento este ano me senti totalmente inspirada pelas informações que trouxe!!