Cotia, 31 de janeiro de 2021.
(Toda vez que eu escrevo “2021” eu checo se digitei certo, porque dá muito medo de voltar para 2020)
dia desses sonhei que uma amiga me dava um conselho sobre o que fazer para viver de escrita. Precisamente, ela disse que, se eu quiser ser valorizada pelo que escrevo, devo em primeiro lugar pagar a mim mesma. Literalmente. Ela disse o seguinte: “Abra uma conta apenas para isso e deposite R$7,98. Depois de uma semana, avalie o que você fez como escritora e deposite o valor que achar que merece”.
quando acordei, se você me conhece um pouquinho de nada, sabe que eu realmente fiz isso. Desde então, terça-feira é o dia de pensar no que fiz ao longo da semana e decidir quanto vou pagar a mim mesma. Não tenho uma lógica de valor, não tenho uma regra de onde esse dinheiro deve sair e também não sei se isso vai dar em algum lugar. Mas, o que importa, é que agora eu tenho uma conta com R$35,01 investidos na minha carreira de escritora.
além desse investimento, também comecei um curso de escrita para organizar as ideias e pegar umas dicas para estruturar o que eu escrevo, melhorar a forma de pôr isso no mundo. Numa das aulas, Lili Prata diferencia comunicação de expressão. É uma conversa longa para dizer que quando queremos nos comunicar, devemos olhar para o outro porque queremos ser entendidos. Na comunicação pressupõe-se clareza e empatia para uma interpretação lógica, reta. Quando buscamos nos expressar, não estamos preocupados com o entendimento alheio, pois o objetivo é apenas tirar um sentimento de si e dar ao mundo de interpretação flutuante.
Lili disse que a escrita é uma dança entre o comunicar-se e o expressar-se. Não ficamos em cima do muro, vamos pra lá e pra cá, entre uma coisa e outra. Essa dança me fez pensar sobre como eu me sinto mais conectada com a expressão, que é também o lado da criatividade, do nonsense, que também tem a ver com fertilidade. A comunicação é o lado da disciplina, da rotina, tem a ver com plantar e colher.
e a partir daí veio uma reflexão que não estava na aula (surgiu na terapia, na verdade): O texto precisa ser útil? Por que eu quero que as pessoas leiam o que escrevi?
faz um tempinho que eu fiz as pazes com o fato de que eu quero ser lida. Eu já disse milhares de vezes que quando vocês me leem fazemos uma amizade nesse pedacinho de texto e isso é maravilhoso. Essa conexão é riqueza, é felicidade.
e fiquei pensando nas conexões que fazemos através da escrita, da música, das ilustrações, do artesanato e das coisas gostosas que vocês cozinham. São tantas! Quando você ouve uma música e se identifica, uma ponte é criada; quando você responde para a pessoa o que sentiu, cria-se mais uma. Quando eu experimento um prato que você fez e conto o que senti, criamos mais uma ponte. E com essas pontes construímos uma rede, uma teia infinita de trocas que nos fazem crescer, evoluir, (re)produzir cultura, alimentar nossas almas.
é por isso que vale investir tempo, energia ou R$35,01 para expressar a sua alma, seja lá como for. E quando você fizer isso, por favor me conte porque eu quero fazer parte.
um beijo, bom domingo e até a próxima!
Eu simplesmente amei esse conselho, e amei ainda mais que veio no sonho hahaha!