🥛 Para acabar com o soluço
É assim: você toma água, mas deixa um restinho no copo e joga esse restinho pra trás, por cima da cabeça. Passa na hora.
Helsinki, 8 de agosto de 2021.
estava pensando sobre coisas que me atrapalham, me bloqueiam. Coisas que não me deixam seguir por um pensamento, devaneio. O que me boicota, não me permite descobrir coisas que eu adoraria fazer. Pensei logo em medo e fui ver se era isso mesmo.
“estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência”.
— esse é o primeiro siginificado do Google.
na minha experiência, medo é a formação instantânea de cubo de gelo no estômago. É isso que sinto quando digo que estou me cagando de medo. É assim que eu me sinto diante do perigo iminente que pode ser uma barata ou o barulho de uma bicicleta atrás de mim (medo de ser assaltada). Na última vez que senti, estava sozinha, na casa da minha mãe. Tive certeza absoluta de que tinha alguém em casa. Achei que era a minha irmã, não era. Corri pra frente da TV e fiquei assistindo os vídeos da Cheryl Porter até que alguém chegasse. Morro de medo de fantasma.
e tentando entender os medos que me atrapalham, percebi que não é exatamente medo, ou é apenas medo do ridículo, mas conhecido como vergonha.
“sentimento de insegurança causado por medo do ridículo e do julgamento dos outros; timidez, acanhamento, recato, decoro".
— gostei desse significado de vergonha, embora a Brené Brown sempre explique bem melhor.
Vergonha de quê
resolvi mostrar minha lista de vergonhas para vocês. Mas, antes preciso fazer uma pausa dramática porque estou tremendo e o cubo de gelo já se formou no meu estômago. Vergonha é medo do ridículo, afinal.
tenho vergonha das minhas sombras, de parecer depressiva, triste e fracassada. Tenho vergonha de falar algo estúpido e as pessoas acharem que sou burra, incompetente ou desinformada. Tenho vergonha dos meus poros abertos, dos meus dentes amarelados, de ter cárie. Também tenho vergonha de não ter dinheiro suficiente (para qualquer coisa). Tenho vergonha de falar para minhas amigas quando não estou bem ou me sentindo insegura. Já senti vergonha de ser brasileira. Morro de vergonha de pedir ajuda e de todas as entrevistas de emprego que não passei. Tenho mais vergonha do que medo de ser demitida. Tenho vergonha de falar inglês.
essas são só algumas das que me assombram e me dizem que sou ruim, burra ou que não mereço bondade, admiração, carinho, amor, amizade, prosperidade (quem eu penso que eu sou para merecer tudo isso?). É isso que a vergonha faz com a gente. Como disse minha terapeuta:
“Vergonha é uma desqualificação do humano”. — Eliana Alcauza.
e sabe uma coisa que me deixa com mais vergonha ainda? Desconfiar que as pessoas estão percebendo que eu estou com vergonha. Talvez por isso, há um tempo, descobri que falar que estou com vergonha me ajuda a superar. Todas as vezes que admiti em voz alta que estava envergonhada, senti que ela diluiu um pouco. Deve ser porque todo mundo sente vergonha de alguma coisa (se você não sente, é provável que seja um sociopata).
O bálsamo e o antídoto
a Babi Amaral indicou um episódio de podcast chamado Não pare de se comparar que bateu bem aqui com essa história de vergonha. É uma desmistificação sobre comparação (mecanismo essencial do ser humano). Julia Branco e Michelle Gonçalves falam sobre se comparar de maneira sábia, justa e respeitando nossos processos e a nossa história.
a comparação injusta me leva à vergonha por não ter algo que gostaria e que aquela pessoa dez anos mais nova conquistou, com um pé nas costas — até porque quem vê close, nem sempre vê corre, né?
para além da comparação, elas ainda trouxeram alguns ingredientes que podem ser o bálsamo para a vergonha nossa de cada dia:
- humildade para começar pequeno a qualquer momento
- coragem de aceitar a pequenez, para então crescer
- esquecer a arrogância porque ela leva direto para a salinha do desdém, "não aceito ser menor do que me imaginei”
aparentemente, o antídoto da vergonha é a empatia:
“Se vamos buscar um caminho para nos encontrar, temos que entender e conhecer a empatia, porque empatia é o antídoto para a vergonha. Se você colocar a vergonha numa placa de Petri, ela precisará de 3 coisas para crescer exponencialmente: sigilo, silêncio e julgamento. Se colocar igual quantidade de vergonha numa placa Petri e dosá-la com empatia, ela não sobreviverá. As duas palavras mais poderosas quando estamos em conflito: eu também.” Brené Brown, TED Talk
🍋 Extra
Mas se eu não tiver coragem
Pra enfrentar os meus defeitos
De que forma, de que jeito
Eu vou me curar de mim
vou avisando: quando eu ouvi essa música da Flaira Ferro, chorei e ri ao mesmo tempo.
“Um pensamento pode ser outro". Jout Jout
a Jout Jout falou essa frase neste vídeo e essa ideia de que um pensamento pode ser outro me pareceu útil para os casos de vergonha. Ainda não usei, mas assim que testar conto para vocês. Talvez no instagram.
🥐 Oi, tudo bem?
preciso falar que amo receber respostas por e-mail. É sempre único e cheio de carinho.
Bom domingo e até semana que vem.
Tássia
Receita caseira para acabar com o soluço
É muito difícil abraçarmos a nossa pequenês e singuralidade diante de tudo, é uma vergonha do não pertencimento enorme...me identifico =). Vergonha de achar que digo bobagens kkkk tenho não nego.
Gostei muito desse topico!