pra quem não recebeu email semana passada, uma breve explicação sobre a newsletter que não existiu:
o estresse em relação à pandemia me mordeu, fiquei com muito medo de pegar covid-19 por causa de umas coisas que aconteceram e não consegui (na real eu acho que eu não quis) sentar para escrever. Eu estava com raiva e não quis registrar nada com esse sentimento. Agora passou, está tudo bem de novo. Tudo bem do jeito que dá: com saúde, com cuidados.
vem comigo que hoje eu tô assim das ideias:
Brasília, 18 de abril de 2021
escrever é sobre observar. Só escreve quem observa. E quando a escrita é absolutamente fantasiosa é porque a imaginação está sendo observada, ouvida. Aliás, me arrisco a ir além: só cria quem observa, quem respira e faz alguma reflexão sobre o que vê do lado de dentro, ou de fora. Quem vive no automático apenas reproduz, fica rolando a tela e, no máximo, compartilha sob uma breve observação que talvez tenha sido feita no passado, num devaneio de reflexão.
quando estou muito concentrada imprimindo as palavras que observo nos meus pensamentos, às vezes, corro ao celular numa tentativa de escape. Uma foto colorida no Instagram faz cosquinhas no meu cérebro, eu relaxo. Abro uma live de uma colega da quinta série: é uma festa daquelas para descobrir o sexo da criança. Sinto a mistura de curiosidade e estranhamento: o palito que espetou o balão com os picotes de papel azul (é menino!) furou a minha bolha. Aqui na minha bolha o certo é desvincular o gênero das coisas (e das cores) do sexo das crianças. A gente diz que menina ou menino pode fazer o que quiser. Isso me lembra de que o mundo é imenso, minha bolha é um ovinho de codorna.
eu estava descansando o cérebro por um segundo mas já voltei? Quando a gente está assim, acordada e observando, o melhor é que crie, que escreva, que fale pelos cotovelos ou que pelo menos faça terapia para não fazer que nem a Juliette (do BBB21, mas pode ser aquela sua amiga que sempre rouba o assunto pra ela). Ela desvia qualquer conversa para falar do que ela sente, do que ela viu, do que ela observou ou de como era na vez dela. Isso é chato demais. Melhor pagar uma terapeuta, comprar um caderno ou começar um podcast de devaneios.
já tem livro, filme, música, conteúdo demais no mundo? Ainda falta. A gente não tem que consumir tudo. Às vezes, o melhor para o mundo é só que a gente crie, mesmo sem uma função específica, para ser isso ou aquilo, para fazer dinheiro. É tipo terapia, só que diferente. Clarissa Pinkola Estés fala da mulher que murcha quando não cria. E criar é amplo, sabe? É escrever um poema ou pintar uma cadeira, só pela intenção de fazê-lo, para sentir bem. Prazer. Não precisa terminar, não precisa postar no Instagram - mas se quiser tudo bem. É livre demais, você provavelmente já sabe disso e talvez esteja levemente incomodada por estar me lendo falar do que é seu e você é quem sabe.
falando em arte, preciso confessar (e me arrepender) que sempre esqueço de ouvir música quando mais preciso dela. Quando a minha alma perde o caminho de volta pro corpo, ouvir qualquer musiquinha faz com que ela encontre a trilha de volta. É quase instantâneo e quem me lembrou disso essa semana foi a Patti Smith numa newsletter antiga que eu achei aqui na minha caixa de emails meio bagunçada.
curiosamente minha caixa de emails que é sempre tão limpa e organizada estava parecendo a minha cama naquelas semanas que eu culpo a lua por não conseguir manter o ambiente adulto e organizado, fica com aquele cheiro do meu humor atrapalhado, exaustão fingindo que é só preguiça.
estava tudo mesmo muito estranho esses dias.
agora, pra você e pra mim, ofereço uma musiquinha para esquentar o coraçãozinho e fazer as coisas se ajeitarem. Eu imitei a Patti e comecei com Every day of the Week, um clássico doo-wop de 1958 dos Students e deixei o youtube me levar. Que delícia.
aperta play:
bom domingo <3
até a semana que vem.
Você tem mais é que criar
Ah! Sobre a tão falada Juliete... Será que posso falar que tbm acho que ela tem essa mania que vc falou? E não gosto muito disso (na verdade, não gosto nada disso) e será que isso significa que não gosto dela, mesmo quando todo mundo gosta... E ai de quem não gostar... Gostar dela só pq ela é nordestina e mulher como será que é suficiente? Ou eu preciso endeusar, aceitar tudo, defender, gostar até do que não gosto só pra não deixarem de gostar de mim... Sei não viu. Só sei que amei a sua passagem sobre ela.
Uau Tássia!!! Eu queria ter escrito tudo que vc escreveu aí, pq me identifiquei demais! Mas lembrei que ainda que a identificação fosse profunda, ninguém sente da mesma forma que a outra pessoa, então quero só deixar registrado que: se for pra vc sumir e voltar com uma mega reflexão dessas, que suma mais vezes! E que se perceba assim sem essa obrigatoriedade de escrever ou criar quantas vezes forem necessárias. Pq na cultura da produtividade na qual vivemos, exemplos como o teu precisam ser expostos (sem querer te obrigar a nada viu?! Só se vc sentir de dividir). De minha parte, sinto vontade de saber. 😘