São Paulo, 22 de novembro de 2020
eu tinha inveja de quem acorda cedo e faz mil coisas antes de começar a trabalhar. Esse indivíduo não deve cozinhar, lavar louça, aspirar a casa… não é possível! - eu pensava. Até que, recentemente, consegui me desbloquear e praticamente todos os dias tenho acordado cedinho para fazer as coisas que eu mais gosto. Sendo a primeiríssima delas escrever.
Cedo que digo é umas 6h. Antes disso meio que não consigo, mas pode acontecer. E daí, dependendo da vontade do dia, escrevo um pouco, leio, pesquiso assuntos que me interessam, faço pilates (esse mais raramente), passeio com a Zeldinha, faço um café da manhã bem gostoso e às sextas vou à feira comprar cogumelos na barraquinha da japonesa.
(quem tem filho pequeno riu da minha cara agora, mas segue o baile)
faz tempo que eu desconfiava que seria uma boa ideia priorizar o que eu amo fazer, mas estava anestesiada por uma rotina exaustiva: tinha dias em que eu até acordava cedo, mas não sabia o que fazer com aquele tempo e voltava a dormir. Dormir era o que eu mais g̶o̶s̶t̶a̶v̶a̶ precisava naquela época.
FALANDO NISSO
E falando sobre esses momentos em que a nossa rotina é tão cheia de trabalho, estudos e coisas que a gente acha que precisa, mesmo não sendo o que a gente ama, me vem o livro da Lorena Portela, Primeiro eu tive que morrer. Não sei na de vocês, mas na minha bolha do Instagram, tava todo mundo falando sobre ele.
Além de contar para vocês que a leitura é gostosa e embala, tem uma coisa importante: esta é uma história sobre mulheres, escrita por uma mulher e a obra foi produzida de forma independente por mulheres. É provavelmente o livro mais feminino da história e em tempos de misoginia (desde que a Deusa mãe deixou de ser adorada, né?), devemos celebrá-lo por isso.
se quiser saber várias coisas legais sobre o livro, vai lá no
Instagram da autora
Primeiro eu tive que morrer
fala sobre nos libertarmos do que anestesia a nossa existência e nos faz voltar a dormir ao invés de levantar para morder a vida (não to criticando o sono, tá? Pelo contrário, hoje valorizo MUITO o descanso).
Esse título é fácil para quem é letrada em vida-morte-vida, mas quem não é também vai entender.
Lorena conta a história de uma publicitária de Fortaleza que decide dar um tempo da correria do trabalho que está sugando todas as suas energias. Quem já trabalhou em agência vai se divertir com o começo do livro, porque os personagens e as histórias da publicidade aparentemente se repetem e só mudam de endereço.
Diante da rotina exaustiva, a protagonista vai passar um tempo na pousada de duas amigas em Jericoacoara, um paraíso no litoral cearense — o livro descreve tão bem as paisagens e tudo que tem lá que dei umas dicas para uma amiga que falou que tinha vontade de conhecer Jeri. Eu até falei para ela ir primeiro para Jijoca e depois pegar um transfer (espero que essa parte não seja ficção hehehe).
Praia, frozen caipirinha e um grande encontro de mulheres que se amam no mundo que decidiu queimá-las na fogueira. Apesar da leitura leve, o livro me levou a lugares profundos.
Com Guida, a senhorinha que vende temperos na vila, abracei minha avó que acabou de partir. Ela, como minha avó, carrega as dores que a sociedade acha que cabem às mulheres velhas, que ao invés de serem valorizadas por suas rugas e sabedoria, são colocadas nesse lugar onde não se pode sonhar.
Glória, o raio de sol, me lembrou de todas as amigas que admiro e estou aprendendo a cultivar e Luana é a esperança que não se limita por tudo que impediu de sonhar quais vieram antes dela.
E com a protagonista, puder rever momentos em que, assim como ela, havia esquecido de mim mesma e não tinha mais vontade de morder a vida, voltava a dormir.
Eu também já precisei morrer para voltar a sentir.
Eu não estava assustada com essas sensações, embora fossem todas novas para mim. Era como ter tomado uma droga que tivesse me deixado receptiva à água e ao vento, elementos mais poderosos da natureza.
🥐🥂
Bom domingo e até semana que vem.
Tássia