Você lembrou de soprar canela no primeiro dia de fevereiro?
Vejo as pessoas falando disso todo mês e a verdade é que eu não curto muito a ideia de soprar essa energia tão potente para dentro da minha casa. Acho que vai bagunçar tudo. Se tivesse que soprar alguma coisa, acho que sopraria alecrim, tomilho ou lavanda.
Lavanda com certeza.
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BRUNCH é manifesto.
Acordar meio-dia e tomar café da manhã, sem culpa. Não estou atrasada. Não quero agenda cheia de compromissos. Para lembrar sempre: descansar faz parte do processo. Aliás, recentemente descobri os “Direitos Descansistas” e achei demais.
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Fale bem ou fale mal, mas fale de você
No dia 30 de janeiro, completei 35 anos e, para começar o novo ciclo com o que manifestando o que importa, fiz um curso de escrita da Tati Bernardi. “Fale mal, mas fale de você” é um mergulho na importância da escrita para o aparelho psíquico de autores de autoficção. Aparelho psíquico — achei chique essa expressão.
Acolher a necessidade de escrever e aceitar que escrevemos porque é isso o que fazemos, liberta de uma culpa que só quem fala sobre si mesma entende. Escrever é organizar os pensamentos para si e, publicar, é um jeito de permitir que a história exista no mundo, com nomes. Não necessariamente nomes próprios de pessoas. Às vezes, são sentimentos, doenças e causas de sintomas que nos adoecem ainda mais quando permanecem bicho-papão, coisa, troço, treco.
As pilhas de diários onde eu confessava segredos e anotava os sentimentos mais ardidos se acumularam durante anos no porão, agora acho que não existem mais. Escrevo desde muito-muito nova, desde sempre. Por necessidade mesmo, ao acordar ou antes de dormir — coisas bobas que nunca seriam publicadas, daquelas que dá vergonha de reler.
Mas a escrita não é sempre para quem escreve. As ideias — espíritos livres, mágicos e fluidos — se aproveitam de momentos oportunos para aparecer. Quando algo acontece, elas pousam no ombro de quem escreve e sopram um texto no nosso ouvido. Não temos o que fazer sobre isso, a não ser escrever as palavras na lauda em branco com o que tiver à mão.
Dia desses, eu estava sonhando que estava escrevendo. Quando me dei conta de que estava dormindo, pulei da cama, peguei caneta e papel e comecei a escrever, mas a ideia estava sumindo. Agarrei o celular e comecei a digitar no bloco de notas antes que a ideia se apagasse. Eu ainda sentia o texto ao fechar os olhos, mas a ideia não me encontrou acordada e se esvaiu.
As ideias acordam as pessoas no meio da noite, mas às vezes o sono é mais forte.
Corda bamba
O castigo do colégio era passar o recreio conversando com o psicólogo, Levy. Um homem de pele bem bronzeada, cabelos brancos cacheados, oclinhos e voz calma. Lembro de um dia que ele traçou no chão uma linha com o giz branco para explicar que sanidade e insanidade se separam assim: por uma linha.
Quem ia falar com Levy estava na corda bamba e a escola não sabia bem o que fazer: chama o psicólogo. As crianças rebeldes iam parar lá porque conversavam demais e atrapalhavam a aula ou porque tinham ideias dissidentes. No meu caso, lembro de ir conversar com Levy porque eu era muito quieta. Tinha até uma menina que me xingava constantemente e de tanto ignorá-la fui parar na coordenação: essa menina se coloca num pedestal, Dona Vera.
Se quando eu era criança eu ignorava as pessoas, mas quando era adolescente implorava pela atenção delas. Uma necessidade ardente de incomodar, causar algum desconforto, alfinetar. Queria que as pessoas perguntassem se era o meu cabelo de verdade, onde comprei, se vesti do avesso, se não tinha vergonha de sair de casa daquele jeito.
Mais para frente, o olhar alheio incomodou — talvez pela puberdade. Não quis mais ser incômodo e quis outro tipo de olhar. Desejei agradar e, recortando para parecer bonitinha, deixei para trás partes que eram importantes sobre mim. Clarice tinha razão.
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro — Clarice Lispector.
Cabeça para baixo
O xampu virado de cabeça para baixo — quase acabando. Antes fosse só o xampu de pernas pro ar. Meus pensamentos quase começaram a fazer sentido. Banho é bom para hidratar as ideias. E depois, com a ideias hidratadas, silêncio para ouvir verdades.
A gente fica tempo demais tentando cumprir as regras sociais e as expectativas que a sociedade impõe para as pessoas da nossa idade, classe social, idade, profissão, etc. Nessa de tentar ser o que não somos, perdemos a nós mesmas. A gente perde. A gente se perde de quem a gente é.
Não foi de uma hora para outra que tudo caiu. As coisas foram acontecendo aos poucos, devagar. Mas estava tão ocupada tentando que nem reparei.
Não aguento mais o barulho de obra do apartamento ao lado. Faz mais de um mês que eles estão quebrando esse banheiro. E também não quero mais sair de casa para o meu trabalho sem sentido. Mas paga os boletos. Boletos caros. Verdade. Será que preciso de tantas coisas? Quanto gastei no cartão de crédito mês passado? Poderia ser metade. Preciso de férias. Mas não faz nem três meses que voltei de Nova York.
Socorro. Vão falar que estou fugindo e que estou assim por causa dele.
É verdade, meu coração está em frangalhos. Quero morrer. Nunca mais entro no Instagram de novo.
23
Esse era o número do meu recomeço e ele estava pendurado, quase caindo da porta. Uma porta de madeira crua que talvez já tenha sido pintada. Tinha uma campainha analógica bem ao lado, mas eu não precisei tocar porque tenho as chaves. Meu novo lar.
Recomecei num domingo de setembro. O ar estava calmo. Dava para ouvir árvores dançando levemente com a brisa, uma ou outra folha caía. Tinha um perfume que me lembrou jasmim, mas acho que o cheiro criei na minha cabeça.
Continua…
Olha esse lugar maravilhoso onde passei o final de semana antes do meu aniversário. O Magical Pond fica em Kuusamo, mais pro norte da Finlândia — moro em Helsinki, no sul do país. Os quartos são todos de vidro — perfeito para quem é fã de aurora boreal. Dessa vez não tivemos a mesma sorte do natal, mas ainda assim foi lindo.
Tenho muitas coisas para falar sobre a Finlândia, até resolvi criar uma newsletter só para isso.
Até domingo que vem,
Tássia
Maravilhoso! Eu ia muito no Levy, porque eu questionava demais ou chorava querendo ir embora daquele lugar. Por mim criança, eu nunca mais vou voltar.
Que texto mais delícia, me encontrei nele muitas vezes.....❤️