Por que Brunch?
A loucura da produtividade me fez uma mulher exausta afastou da criatividade.
Queria condensar o brunch numa frase apelativa. Zapeando os 80 textos que formam esta série até agora, me dei conta de que estou sempre falando sobre o meu engodo: a agenda cheia e a vida de workaholic (quase passo mal com essa palavra) que me fez uma mulher exausta e me afastou da criatividade.
Na minha família, quase todas as mulheres dependem do dinheiro do marido. Apesar disso, estão acordadas e abriram nossos olhos: casamento sem independência financeira é prisão. Fui ensinada-pressionada a ser independente desde que entenderam que eu compreenderia o que independência e autonomia significam.
Trabalhei numa seara dominada por homens que se beneficiam entre si. E onde mulheres precisavam trabalhar e estudar dobrado para ganhar quase o que eles ganhavam. Motivada pelo medo de depender, nem pensei: corri para a autonomia de pagar meus boletos, ganhar meu dinheiro. Consegui algum, mas acho que errei a mira porque não encontrei nenhum prazer naquilo. Zero vontade.
Para amenizar, inventava um propósito mirabolante. Todo dia uma desculpa esfarrapada para conseguir ajudar empresas gigantes a faturarem mais alguns milhões. Na contramão, dizia para minhas amigas comprarem do pequeno, de mulheres e incentivarem a produção de conteúdo independente.
O gosto amargo foi se espalhando, fiquei nauseada até que passei mal. Tudo ficou escuro. Chorei, tomei um banho atrás do outro, acendi uma vela de patchouli, abri meu tarô e tentei entender o que precisava consertar. Cadê o gás para trabalhar? As contas continuam escorregando por debaixo da porta.
O brunch nasceu quando entendi que não dava mais para fugir. Ficou mais claro ainda quando li sobre a escrita afetuosa de Ana Holanda e chorei que nem um neném com cólica pelo ressentimento de ter abandonado a escrita. Chorei por não acreditar que ela conseguia pagar contas.
Mas é na escrita que eu existo. E chorei de novo até dormir e acordar ranhenta. Ressaca de choro. Ali, enrolada num lençol fofinho, as peças foram se encaixando.
Modo Brunch
Brunch é o desbunde de acordar depois do meio-dia e tomar café da manhã. A palavra mágica para desbloquear a vida que quero levar:
colorida
relaxada
mágica
biquíni
lago
aperol spritz
croissant
sorvete de baunilha
cristais
um livro
chocolate quente
tarô
vela de lavanda
canga
sauna
piscina
brunch
piquenique
parque
sol
neve
bolo de morango
chá de camomila
pantufa
arte
noite estrelada
Ainda não levo a vida e-x-a-t-a-m-e-n-t-e como gostaria, mas já consigo vislumbrar. Está logo ali no horizonte. Tô chegando.
O Brunch é sobre sair da rodinha de hamster e ficar de pé nas quatro patas1 na plataforma do patriarcado onde o chão é lava para as mulheres. Estar presente, acordada e firme para construir o melhor sem culpa de colocar a máscara de oxigênio em mim, primeiro. Prefiro curar a falta das minhas antepassadas pela desobediência ao sistema.
Mulheres que correm
pra academia
empurrando carrinho de bebê
atrás do ônibus
de salto atrás do ônibus
pro trabalho
pro salão de beleza
pra aula da pós
de ressacaatrás de homematrás do prejuízo
pra casa
pro banho
pra academia de novo.Parem um pouco.
Vou sem pressa e cada newsletter é uma etapa do caminho e um convite a vir comigo nessa estrada.
Feitiço para bruxas apressadas
No final do episódio 41 de Comfy cozy witch, Jennie tirou a carta “Oportunidade” do Witchlings Tarot (Paulina Cassidy) que acompanha um livro de rituais. Decidi traduzir e adaptar aqui porque amo mini feitiços.
Chama Verde da Oportunidade 🪲🕯
Acenda uma vela verde num suporte seguro e se concentre por alguns minutos fazendo o seu ritual preferido para centrar sua energia e se conectar com presença.
Reflita sobre um dos objetivos que você deseja alcançar — pode ser aquele que ainda está pendente para fechar 2022. Em seguida, visualize a si mesma confiante, alcançando esse objetivo com sucesso. Vale colocar uma música de fundo para inspirar.
Quando estiver pronta, repita ou mentalize o seguinte:
Luz da oportunidade brilhe onde estiver
Abra a porta a porta para mim
E me leve para onde eu desejo ir ✨
No final, ela diz para apagar a vela, mas eu certamente deixaria a vela queimando até o fim.
Dá para comprar o Witchlings na Adlibris (Europa) ou na Simbólika (Brasil).
Perrengue Chique 🦩
Já assistiu The White Lotus na HBOMax? 𑁍
Gente rica, hipocrisia e perrengue chique. Cada temporada começa com uma morte misteriosa. Enquanto você tenta descobrir quem morre no White Lotus Hotel, a série cutuca questões de classe, raça, gênero, sistema, injustiças sociais & casamentos falidos sobrevivendo de aparência. Para quem gosta de sair da zona de conforto sem perder o entretenimento. A primeira temporada tem cenas belíssimas no Havaí, e a segunda se passa na Itália.
Carta da semana
Porque essa é uma das últimas newsletters do ano, resolvi tirar uma carta do Tarot in Wonderland para inspirar a semana que vem.
“Quando você entender essa escritura, jogue-a fora. Se você não conseguir entender essa escritura, jogue-a fora. Eu insisto na sua liberdade.” — Alegria, sucesso, celebração e posivitidade.
Até mais,
Tássia
No conto de Vasalisa e Baba Yaga, no livro Mulheres que correm com os lobos, “De pé nas quatro patas” é o momento em que Vasalisa deve assumir o seu poder de ver a própria vida com a luz que recebeu.
Conteúdo é livre de publicidade, espalhe por aí ✨
Agradecimento especial às apoiadoras do Brunch 💖 Super obrigada!
Quero muito fazer o feitiço 💚
Que lindo isso tudo...❤️