Helsinki, 22 de agosto de 2021.
Outro dia fui à ginecologista finlandesa pela primeira vez, e para contar todo meu histórico ginecológico com o inglês que eu tenho, usei algumas palavras em português tipo “penicilina” para avisar que já tinha tomado antibiótico. Ela entendeu. A médica também falou uma coisa ou outra em finlandês e foi dando certo. No final, perguntou se eu sabia ler finlandês. Eu respondi que sim, com o meu celular.
As pessoas me perguntam muito sobre como está sendo minha adaptação aqui. Eu digo que está ótima, estou apaixonada por Helsinki. Cada dia gosto mais, quero ficar aqui para sempre. É verdade. Ainda estou me adaptando a falar inglês fora de casa e não saber finlandês me deixa desconfortável. Não consigo simplesmente ignorar as palavras finlandesas que estão por toda a parte. Me incomoda não saber o que dizem, e por isso decidi começar estudar o quanto antes, para pelo menos conseguir ler, como a ginecologista me perguntou se eu sabia.
Falar finlandês é outra história.
Moikka (olá em finlandês)
No Brasil não tem isso, né? Só falamos português. Em São Paulo a gente até ouve as pessoas falando algum idioma diferente na Liberdade ou inglês na Faria Lima, mas em geral vivemos isolados na nossa língua materna. Antes de quase todas as vagas de emprego pedirem inglês, dava para viver a vida inteirinha sem se preocupar com isso. Cinco por cento dos brasileiros falam inglês e eu aposto que todos eles se conhecem, pelo menos de vista. Ah, fluentemente é só um por cento, tá? E as palavras técnicas que as pessoas adoram falar em inglês ou aportuguesadas não contam.
A amiga da minha mãe
Minha mãe tinha uma amiga colombiana, lá em Natal. Ela foi minha primeira e talvez a única referência de pessoa que falava outro idioma e estava presente na nossa rotina. Lembro que ela misturava espanhol, português e um pouco de inglês. Tranquilamente, abria a boca para falar e pronunciava o que o coração mandasse. Falava "mi cariño” com sus hijas y siempre chamava a minha mãe de “Bera” (o nome da minha mãe é Vera). Talvez ela usasse inglês com o marido brasileiro. Acho que sim, porque eles se conheceram em Miami.
Às vezes, eu tento recordar dessa época, porque o cenário era ótimo: meados dos anos 90, um salão de beleza em Ponta Negra (bairro de Natal). A minha mãe era cabeleireira e essa amiga dela era a dona do salão, que ficava em um ponto comercial acoplado à casa da sogra dela (!). Queria muito relembrar dos dramas familiares contados em portunhol. Eram vários.
Agora, eu me sinto um pouco assim, com o meu inglês atrapalhado. Errando conjugações de vez em quando e me criticando mentalmente. Prometo me esforçar mais na próxima vez, porque afinal de contas eu conheço o idioma, estou nos cinco por cento. Às vezes, falo uma palavra ou outra em finlandês para ser simpática: moikka, kiitos, anteeksi (olá, obrigada, com licença).
Ontem no café, o barista perguntou se eu queria alguma coisa no meu chocolate quente, mas eu não entendi. Pedi para repetir duas vezes e nada. Disse "ok" e segui. Agora, pensando bem, acho que ele perguntou o tipo de leite que eu queria. Era só falar regular.
🍫💊Meu ano de descanso e relaxamento
Eu falei que estava lendo esse livro. E ainda estou. Mas, gente, ficou esquisito, denso, difícil de lidar e por isso eu dei uma desacelerada, mas não desisti. É isso: depois eu conto tudo.
🍒🔪 ic-ic!
Vocês viram Brand new cherry flavor (Vingaça sabor cereja) no Netflix? Se o Lou Burke tivesse lido o meu penúltimo texto, teria resolvido aquele soluço em segundos.
bom domingo
e até semana que vem 🥐🥂
O salão se chama “Caritas Lindas” 💜
Eu adorava ouvir a Marta falando também “está susso” era “sujo”. Sempre gostei de mesclar outros idiomas. E olha, você não tem a obrigação de aprender em meses, vc tem muito tempo ai, vai aprender finlandês, afinar o inglês e até outros idiomas se quiser. Easy on you!