🥐 brunch note
entrou sem pedir,
passou o dedo na superfície das minhas inseguranças
encontrou o pó acumulado
tá sujo aqui.
helsinki, 1º de agosto de 2021.
mês passado assisti Shtisel (Netflix) e fiquei revirada. Me envolvi com a vida de judeus ortodoxos, aprendi algumas palavras em hebraico (shalom shalom!), chorei ao lado de Akiva quando ele estava triste (não foram poucas vezes), abracei a Ruchama e disse a ela o quanto ela era forte. Aconselhei Gitti a ser mais leve consigo mesma, mas ela só ouve o pai, Shulem Shtisel, um rabino duro como carne de pescoço que se parece muito com a voz do meu tirano imaginário.
meu carrasco favorito
ele acredita que seremos felizes se a felicidade estiver nos planos de D’us1. E já que tudo o que acontece entre o céu e a terra tem uma razão divina, devemos seguir os mandamentos, à risca.
a cada decisão arriscada que eu penso em tomar, Shulem me olha por debaixo dos seus oclinhos de leitura com um olhar reprovador, como se eu já estivesse estendida no chão precisando ser levada por uma ambulância. Se algo me enche de alegria e tenho vontade de sair pulando por aí, ele me pergunta se já cumpri com todas as minhas obrigações antes de achar que mereço aproveitar. É como se ele pudesse passar o dedo na poeira das minhas inseguranças e me mostrar o pó acumulado: tá sujo aqui.
eu abaixo a cabeça, me envergonho. Quantas coisas ainda preciso cumprir para poder sentir que mereço deitar na grama, olhar o sol e sujar minha roupa sem me preocupar. Se levanto para tomar um sorvete, ele diz que fui longe demais e me manda um lembrete de que devo estar esquecendo algo: uma reunião importante, o vermífugo da Zeldinha, a louça na máquina.
quando está fora de controle, a fera me diz o tempo todo que há coisas mais importantes do que ser feliz, como acertar sempre, tirar dez, tomar decisões acertadas, ter opinião sobre assuntos relevantes, ser promovida, ajudar as pessoas que precisam, limpar a casa, emagrecer e todas essas coisas que alguém um dia disse que eram as coisas certas, para pessoas disciplinadas.
denunciar a natureza sombria2
Neste estágio da iniciação, a mulher vê-se acossada por exigências banais da sua psique que a exortam a atender qualquer desejo de qualquer um.
aparentemente contos de fadas já sabiam de tudo. Não coincidentemente, na história de Cinderela, uma madrasta megera convence-a a fazer serviços domésticos sem se queixar, como se a submissão fosse um ato de heroísmo. Exausta e isolada de si mesma não é possível fazer muitos questionamentos.
a história de Vasalisa, a sabida se parece muito com a de Cinderela, da Disney, mas ao invés de ser salva das garras de sua madrasta pelo príncipe, Vasalisa recebe vários ensinamentos de Baba Yaga e consegue salvar a si mesma. Bem melhor, né?
Temos de abandonar o coro de detratoras e mergulhar na floresta.
e para encontrar alguma luz de orientação, é preciso ir ao encontro da Grande Megera Selvagem:
Baga Yaga é assustadora por ser ela própria o poder da aniquilação e o poder da força da vida ao mesmo tempo. Contemplar seu rosto é ver a vagina dentata, olhos de sangue, o recém-nascido perfeito e as asas dos anjos, todos juntos.
diz o conto de fadas, que Vasalisa entra na floresta sombria e, quando encara a Baba Yaga, ela finalmente pode conhecer a si mesma, alimentar sua intuição e aprender a separar o joio do trigo. Ela pode finalmente deixar morrer o seu lado boazinha demais e receber o fogo para destruir a madrasta megera.
agora, ela está pronta para dizer não sempre que o não lhe couber. Ou para voltar ao centro quando sua alma esfaimada se perder na floresta. Depois de ter encarado todas as faces assustadoras de Baba Yaga, Vasalisa não esquece nem por um minuto das suas regras e dos seus limites. Nunca mais irá abandonar a si mesma.
além deixar morrer as demandas que criaram para nós (junto com as madrastas megeras ou tiranos imaginários), é preciso aniquilar as expectativas do mundo exterior. Assim, poderemos viver em autenticidade, liberdade e sem essa voz que nos faz perder tempo e alegria de viver.
é isso, Shulem: vlw flws.
📮 para quem ama e-mail
se ainda está começando nesse universo de newsletters, indico explorar o leitor do Substack (ainda em versão beta) para conhecer outras publicações como esta. Quem não curtiu a história do Instagram mergulhar nos vídeos de dancinha, vai sentir o acolhimento.
🥂 para relaxar
aparentemente ontem foi o dia do orgasmo e essa é a oportunidade para falar da Lubs, porque eles estão com descontos. Clica aqui para ver3. Lubs é uma uma marca brasileira de sexual-care. Se alguém da Lubs tá lendo isso, saiba que eu sou fã de vocês.
🥞 brunch em finlandês
tervetuloa brunssille 💖 bem-vindas ao brunch! Aqui em Helsinki tem vários restaurantes que servem brunch. Os mais legais servem brunch durante o dia todo, e ao ar livre (mas só no verão). Ontem eu fui no Piilo Ravintola.
🥂
bom domingo e até semana que vem!
tássia
uma das formas utilizadas por alguns judeus para se referirem a Deus sem desrespeitar o mandamento recebido por Moisés que diz para não invocar o nome de Deus em vão.
“Denunciar a natureza sombria” é a segunda tarefa das etapas de iniciação de Vasalisa, no capítulo "Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação. Página 102 do livro Mulheres que correm com os lobos, Clarissa Pinkola Estés.
não é publi, esse link é da promoção que eu recebi por email. Aliás, eu adoro os emails da Lubs.