esses dias eu fui lá no Instagram e postei um vídeo (reels!) contando sobre o dia que tinha uma abelha no bonde.
Eu tinha ido no catório dos imigrantes aqui de Helsinki, não estava pensando muito, estava grudada no celular. Até que a abelha me raptou com a sua belezinha. Era muito bonitinha e grandinha. Sabe aquelas abelhas gordinhas com ferrão? Ela era assim. Depois de me deslumbrar, já morri de dó de vê-la ali dentro.
Fiquei de olho, sem me mexer muito. Tirei os fones pra ouvir o zumbido caso ela decidisse me ferroar, já que ela estava nervosíssima batendo no vidro do bonde como se pudesse atravessá-lo. Ela via os parques lá fora, e se jogava na janela sem entender aquela coisa invisível que a impedia.
Abelha mole, vidro duro.
Ela pegava mais impulso e se jogava na janela, depois descia escorregando, voava pra trás e batia de novo. Esse esforço tremendo na direção óbvia — o parque estava ali na frente — me lembrou do que me disseram que sobre conquistas, em geral: rala que rola, disseram eles.
A abelha me odiaria se ouvisse isso enquanto ralava, se esfolava, se despedaçava, literalmente. Mesmo assim, não rolou.
Duas psicólogas
Levei esse assunto para as minhas duas psicólogas. Sim, gente. Agora eu tenho duas terapeutas porque eu sou muito curiosa. Quis começar uma terapia misturada com astrologia — sei que o conselho de psicologia não permite essas coisas, mas isso é outro papo. Eu nunca achei que teria assunto para fazer mais de uma terapia por semana, mas tenho. E essa história da abelha, rendeu porque tem a ver com duas coisas que tenho aprendido com a vida.
A primeira é sobre evitar o esforço, ou a fadiga. Isto é, não forçar a barra. PARA MIM (não tô dizendo que é o certo, tá?) as coisas que valem a pena são mais fáceis, acontecem de um jeito leve, deslizam pro meu lado. Isso não significa que eu posso ser preguiçosa, não estudar, por exemplo. É sobre não forçar. E se der errado, tenta outro caminho ao invés de ficar batendo no vidro.
Em agosto, comecei a procurar emprego (dinheiro, né mores?) e não estava encontrando nada interessante. Fui no óbvio: fazer o que eu estava fazendo antes e não estava rolando — e no fundo eu não queria. Aceitei que eu queria voltar a ser redatora e: rolou de primeira. Foi tão fácil que, antes de assinar o contrato, fiquei horas investigando a empresa porque eu achava que era golpe. Juro.
Não teve esforço, foi leve. Fiz duas entrevistas, contei a verdade verdadeira e recebi uma proposta excelente. E aí, tenho testado esse movimento de não forçar para as coisas acontecerem. Deixar fluir magicamente 🧚🏻♀️ Já apliquei esse pensamento no Secret Club e tem dado certo, estou mais tranquila, bem menos ansiosa. O Secret Club é um clube que eu criei aqui em Helsinki para ajudar mulheres a fazerem amigas.
A segunda coisa que eu aprendi é que não podemos mudar pro relacionamento dar certo. Alguém vai falar: alá a aquariana signo fixo falando em não mudar. Haha. Gente, nessa eu acho que eu tô certa.
Olha essa história
Senti que alguma amiga estava em apuros e ia me mandar mensagem. Abri o tarô, saiu o três de espadas. Pensei na minha amiga mais próxima que tem um relacionamento conturbado, já achando que o namorado estava traindo. Tirei outra carta, saiu a imperatriz e a minha mente fofoqueira pensou: a amante tá grávida!
Mas não era nada disso — pelo menos não que eu saiba 👀
Uma outra amiga me mandou mensagem pedindo um conselho do tarô. Como não sou taróloga conversamos um pouco sobre a história e eu expliquei pra ela tudo que eu penso, porque eu posso enviesar um jogo de tarô, admito sem medo.
Porque eu sou contra mudar
Vocês sabem que eu tenho uma experiência vasta em namoro merda: mais de 10 anos de namoros lixo, namorado narcisista, já tomei chifre, já chifrei, tive namorado que leu todas as minhas conversas com a minha melhor amiga e por atí vai.
Namoro merda — não só os meus, já vi de outras pessoas também — sempre tem essa história de “você precisa mudar”, “querer mudar”, “vou mudar”, “vamos mudar”. Eu tô mentindo? Não tô.
E eu nunca vi isso funcionar. Mas nem um pouco. E é por isso que eu vou pelo extremo oposto, como deveria ter feito a abelha para encontrar a saída do bonde. Eu já declaro que não mudo, e não quero ver ninguém mudar.
Tinha uma amiga minha lá de Caruaru que sempre me dizia: a gente só melhora ou piora o que a gente é, ninguém muda completamente. E na boa? Ela está certa. E eu acrescento: ninguém tem que mudar nada.
Qual o sentido de ficar com uma pessoa que eu gostaria que fosse diferente?
Eu acreditava que o amor era mais importante do que tudo. E, nós dois, por nos amarmos, teríamos que dar um jeito nas incompatibilidades para sermos felizes. Essa era a fórmula do namoro merda: uma máquina de moer autenticidade e, por consequência, a autoestima. Não só a minha, a do outro também.
E eu não falo de deixar toalha molhada em cima da cama. Ou fechar as portas dos armários (eu tinha esse problema). Isso é ajuste convivência, bom senso. Essas regrinhas são saudáveis (e necessárias) para qualquer espaço compartilhado.
É inaceitável que a pessoa me peça para “ser menos mística”, “ser mais sexy”, “ser menos espalhafatosa”, “fazer menos piada”. Não dá. Eu não mudo quem eu sou porque alguém me sugere. Me pedir isso é querer que eu não exista e a minha existência é inegiciável. É como se me pedisse para arrancar um dedinho.
Não abro mão de ser quem eu sou.
Amor & Autenticidade
Teve um dia que eu fiquei chati porque meu marido (casei, gente) falou que a minha roupa não estava combinando. Troquei a roupa, com ódio no coração. Odiei mais ainda. Pensei: prefiro que ele não goste do que deixar de vestir algo que eu quero. Coloquei tudo de volta e só avisei que eu estava me sentido ótima. E aí ele falou que mudou de ideia, que achou linda.
Lembrei que eu também não gostei logo de cara da tatuagem de caveira com olhos vermelhos que ele tatuou na mão (!). Eu estranhei. Falei que ia ter medo à noite hahaha. Agora, eu acho a coisa mais linda do mundo.
Acredito nesse loop do amor: amar, valorizar e apoiar, incentivar todos os dias a se vestir literal e metaforicamente de quem a pessoa é, amar mais ainda.
Essa é a minha fórmula secreta do relacionamento baseado em autenticidade. Com ela, é possível ajudar o outro a ser mais feliz. Quando me esqueço de mim mesma, me critico, ele está ali para lembrar que a minha mesa só está uma zona porque eu sou uma mulher criativa, e que isso é massa! Depois a gente arruma. Ou ainda, traz pra casa um presente que incentiva um hobby encostado que me faz super bem.
A primeira mulher a ser secretária do estado nos EUA era judia e escapou dos tanques de Hitler na Tchecoslováquia com a família. E foi ela quem disse que
“Tem um lugar especial no inferno para as mulheres que não ajudam outras mulheres”.
Só agora descobri quem foi Madeleine Albright e fiquei logo sabendo que ela morreu de cancer em março deste ano, aos 84 anos.
Perseguindo a fofoca
Quando rolou aquele babado no Calcinha Larga, você foi lá especular? Eu fui. Lembro que alguém até mandou a real e disse “vocês aí metendo o pau na Tati Bernardi na verdade não sabem lidar com uma mulher super talentosa. Bando de invejosa”. E também vi gente falando que a Cami e a Hel sempre tiveram que engolir a Tati porque ela sobe o nível do podcast.
Essa história pegou fogo por causa de uma coluna da Tati:
Deixei performar, com gosto, a barraqueira que vive em mim. Abracei a descompostura. Descumpri contratos. Não fui madura nem profissional. Entretanto me livrei de conviver com colegas de trabalho que estavam reduzindo em dez anos o bom funcionamento do meu fígado. A voz voltou na hora, e dormi como o anjinho caído que sou.
E aí, pouco tempo depois, elas soltaram este post:
Eu nunca fui calcinher de carteirinha, mas depois que rolou isso ouvi vários episódios à procura de algo nas entrelinhas que correspondesse a “piadas internas pretensamente inocentes instaurando climinhas ensaiados de branda desmoralização...”.
Engraçado que com esse filtro de climão, nem consegui mais prestar atenção ao que as entrevistadas estavam falando. Parecia que eu estava ouvindo outro podcast. A gente molda a realidade que nem sente. Ou sente sim. E isso muda o mundo — só que nesse caso para pior.
A gente molda a realidade que nem sente. Ou sente sim. E isso muda o mundo — só que nesse caso para pior.
P
Por fim, preciso admitir que que sempre quis ser a Tati Bernardi. Já pensou que luxo seria o Brunch dentro da Folha de São Paulo? Queria ter um espaço como o dela, só não queria ter as crisdepânico — mesmo achando que textos surtados têm seu tempero, mas longe de mim romantizar desgracência de cabeça.
Aliás, falando em texto pós-surto, lembrei que já escrevi um texto de dentro do banheiro durante uma crise de cistite. Não tenho coragem de publicar, mas lembrei de quando a Anitta largou a real no Twitter.
O Brasil inteiro acompanhou a história da cistite de repetição da Anitta que era consequência de uma endometriose. E eu fui fazer exame de endometriose? Não fui, mas vou, em algum momento. 💁🏻♀️
Conteúdo só para assinantes 🪲
Segura!
A partir das próximas edições, teremos conteúdo especial, apenas para assinantes que $apoiam$ o Brunch. O conteúdo especial você vai encontrar histórias sobre escrita, criatividade, rascunhos e caminhos criativos.
Além disso, você vai receber um e-book novinho com textos inéditos e alguns clássicos editados para ler no conforto do seu leitor de texto preferido, sem distrações.
Ah, e você ainda vai ficar sabendo das novidades antes de todo mundo. Como esta aqui, ó:
E aí, bora apoiar uma escritora hoje?
Você é contra mudar a si para melhorar um relacionamento, mas você é a favor de que um bom relacionamento TRANSFORME você? 🗣🗣🗣🗣🗣 Ai que pena que esse clube é só pra luluzinhas! Ass; Bolinha