Você conhece o seu ritmo?
O corpo sabe das coisas. E eu continuo deslumbrada com a minha menstruação.
Outro dia, deixei de ir a um evento porque a data era bem em cima da minha TPM — não ia dar, mesmo. Socializar, fazer network com pessoas que nunca vi antes ia me machucar demais. Amarguei por alguns minutos com a repercussão nas redes sociais, mas logo percebi que em seguida teria outro. Sempre tem. O mundo está atolado de novidade. E é por isso que vamos falar sobre ritmos.
Uma amiga leitora tirou uma carta do Oráculo das Deusas para mim. Morgana apareceu e perguntou:
“Qual é o seu ritmo pessoal? Você sabe qual é o melhor momento para exercitar-se, dormir, comer, ser criativa, fazer amor, trabalhar, etc.?” Ou gasta toda a sua vitalidade ajustando-se ao ritmo imposto pelo trabalho, pela família, pelo amante, pelos amigos? Você mergulhou na vida do outro e vive o ritmo dele em vez do seu?”
Respondo mentalmente, já me justificando: — Eu tô tentando, tá?
O Ritmo do Corpo — a natureza sabe das coisas
Acredito no corpo como oráculo, mas me falta prática. Esqueço que sou a natureza — uma alma ancorada num corpo pequeno. Há seis meses, voltei a menstruar depois de sete anos sem uma gota-de-sangue. Vieram as cólicas, passei a sentir o meu corpo. O processo tem me deixado curiosa e apaixonada por mim mesma — é poético.
O fluxo, o sangue, o muco cervical dizem coisas. Um relógio inteligente que revela a hora de parar, a hora de sair, a hora de correr ou de meditar. Os hormônios ditam quando meu corpo quer hibernar, porque para ele é como inverno — não vai produzir. Depois, sangra e nutre novamente a terra. Volto a ficar fértil, sorridente. Me sinto magnética quando estou ovulando — e tenho usado essa força sem dó. É quando vou a eventos, converso com pessoas. Fico mais corajosa. Até peço um favor, embora seja tão difícil aceitar ajuda. Depois desse tempo brilhante de primavera & verão, vem o outono — a fase lútea. Para mim, o outono dura uns 14 dias. É o período de recolhimento e foco antes de menstruar e começar tudo de novo.
Meu Ritmo — pessoal e sem evidências científicas.
Sou uma alma e tenho um corpo de mulher. Aprendi a entender, amar e respeitar como esse corpo se comporta, ao invés de lutar contra ele.
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Depois da menstruação, o óvulo começa a amadurecer e se preparar para a ovulação. É como se eu estivesse acordando. Dá vontade de sair de novo, começo a ficar mais leve — retomo projetos e arrumo a casa. É nessa fase que volto para a ioga. Um inverno (TPM e Menstruação) longo e complicado respinga na qualidade da minha primavera. De toda forma, se as coisas saem do controle, é essa a hora de retomar.
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Se eu postei uma selfie no Instagram, você pode apostar que eu estou ovulando. Nessa fase eu fico serelepe, amostrada, me achando. Quero sair, quero que as pessoas me vejam. Meu cabelo fica maravilhoso, a pele fica bonita como quem acabou de transar. A libido sobe e até esqueço que sou quieta e pudica. Meu corpo quer ser fertilizado — a qualidade do sexo melhora. O gosto das coisas melhora. As músicas ficam mais bonitas. Dura pouco, mas é intensa. Eu me sinto magnética, gostosa, sensual.
Até que os métodos contraceptivos funcionam, nenhuma fertilização acontece e o estradiol despenca.
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Vem o outono com o peso da decepção: o corpo-lúteo se desfaz e óvulos são desperdiçados. O corpo pede colo, quietude, silêncio, meia-luz, chocolate quente. Quero ficar em casa, de retomar a leitura que ficou pendente nos últimos dias que não parei em casa. Vontade de desistir de algumas coisas, jogar coisas foras, analisar, encerrar. Pode bater uma sensação de arrependimento e culpa sem sentido — no meu caso de TPM, a medicação natural ameniza.
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O meu inverno acontece um pouquinho antes e durante a menstruação. Fico chatinha, dramática e meio estúpida. É quando não quero pensar muito — silêncio. Fazer o básico, automático. Quanto menos exercício físicos ao longo do mês, pior é a TPM. Com os remédios, não caio mais no buraco escuro e lamacento. Nos últimos meses, não fui para ioga e a recuperação não é rápida. O corpo é como a natureza, precisa de constância. Não adianta ficar duas semanas sem regar e encharcar num único dia.
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Nos três dias antes de menstruar, meu corpo fica irritado — começa a inchar, o intestino fica preso. Pede doces e massagem no pé. Pode ficar meio preguiçoso. A bateria social é 2% por dia — só dá para encontrar pessoas que conheço e tenho intimidade suficiente para dizer que estou de TPM e tive uma crise de choro ontem. Depois que chorei passou. Chorar é preciso, às vezes. Já reparou nisso? Eu evitava o choro, mas mudei isso também, deixo o corpo chorar, sem justificar muito. Se o corpo quer, deixa ele.
Quando o sangue desce, pinta de vermelho não só o vaso sanitário — mas o mundo todo começa a ganhar uma corzinha, mesmo quando a cólica bate forte. Conversei com a Naly Cabral — dona da PPK Pads, uma marca brasileira de absorventes reutilizáveis. Foi a Naly que desenvolveu o tecido dos absorventes e fez inúmeros testes para entender cada detalhe que faz o sangue ficar no absorvente sem sujar a calcinha, sem incomodar.
Numa conversa aberta — dividimos verdades e frustrações sobre o sistema que empurra anticoncepcionais nas adolescentes. Eu e Naly temos idades parecidas, menstruamos por volta dos 10 anos e tomamos anticoncepcional por uns 15 anos. Passamos anos e anos sem menstruar, com o nosso relógio interno bloqueado — assim como a libido. O anticoncepcional deixava o cabelo mais sedoso, a pele mais bonita e apáticas — eu sempre achei que aquele era o meu “normal”, até parar. Estava tudo certo, dentro da bula. A gente que não leu tudo.
Dançar o ritmo do meu corpo é provavelmente a minha maior demonstração de respeito por mim mesma. Uma prova de amor-próprio e uma forma de firmar meus pés no chão quando os pensamentos me confundem.
“Quando descartamos o absorvente, perdemos um pouco do contato com o nosso sangue, às vezes a gente esquece de olhar a cor e a textura do fluxo. No começo, muitas mulheres estranham, mas depois me contam que os reutilizáveis ajudaram a se reconectar com o ciclo menstrual.” Os pads reutilizáveis são uma opção para quem quer se conectar com o próprio fluxo, usar um absorvente mais confortável do que o descartável e reduzir o descarte de plástico.
Algo que eu tentei fazer de diferente esse ano, foi aprender a escutar meu corpo. Ele me dizia - e diz- tantas coisas que antes eram ignoradas ou esquecidas... e que diferenca que faz quando o colocamos em primeiro lugar!! quanto bem-estar vem da autoescuta e autoanalise!
Adorei, me identifiquei tanto! Eu comecei a tomar anticoncepcional bem nova pq eu tinha ovário policístico e queria transar sem preocupação com gravidez haha! Fiquei por anos assim, mestruava mas era bem protocolar, dias contados, sem cólica, etc. Até que eu comecei a ler sobre efeitos colaterias da pílula e decidi parar de tomar, já que também era algo meio "chato" da rotina pra mim, sabe? Tipo todo dia lembrar de tomar pílula num dia/hora exato. E aí eu comecei a ver que eu não sou a mesma pessoa todos os dias do mês, que a variação dos hormônios me fazia ficar mais feliz ou mais recolhida dependendo do período do ciclo. Percebi o quanto a pílula me deixava num estado de apatia o mês inteiro! Desde que parei com ela tenho me conhecido mais, me reconectado com o ciclo mesmo e entendido sinais do meu corpo que antes nem apareciam, eram reprimidos. Enfim, hoje posso dizer que meio que gosto de menstruar, pq é o sinal do meu corpo para diminuir o ritmo, olhar mais pra mim e mais importante de tudo, me faz me colocar em primeiro lugar sem sentir que é errado fazer isso. Tenho bastante cólica, meu fluxo aumentou (uso DIU de cobre), mas ainda assim é um processo importante pra mim. Entendo que para mulheres que sofrem com muitas dores ou sintomas severos, a menturação pode trazer sensações ruins, é algo bem particular mesmo.