É tão bom falar nesta newsletter, me sinto ouvida e acolhida quando me abro com vocês. É como se estivesse abraçando todas que me leem. Escrever é sempre revelar algo muito íntimo, a gente tira as máscaras e alguns filtros para mostrar como pensa, como vê o mundo. Esse é o meu clube.
Finalmente, escrevo de Helsinque. A preparação para mudar de país foi o que me encorajou a descansar da newsletter por umas semanas, pois minhas teclas sempre voltavam para os mesmos assuntos: a espera, a saudade, a ansiedade e todas as burocracias da migração — e eu não queria falar mais sobre isso. Agora, estou livre, quase desintoxicada.
Depois de três voos cancelados e uma mala extraviada, tudo ficou automaticamente mais leve quando despachei as malas no aeroporto de Guarulhos e segui pelo portão de embarque com a Zeldinha e o teste de covid-19 não detectado. Carregar um teste negativo nesta pandemia faz tudo parecer mais fácil. E a Zeldinha também.
Helsinque, 25 de julho de 2021.
Voltei, minhas queridas
e voltei ao lugar onde comecei esta newsletter. Quando falo em recomeço, lembro que minha irmã me ensinou um jeito fácil de recomeçar um dia que está dando errado: toma um banho. E, nossa, como teria sido bom voltar para casa e tomar um banho para recomeçar certos dias desastrosos, mesmo que me atrasasse.
Este boletim é uma conversa, mas os últimos tempos pediram silêncio e um banho atrás do outro. Enquanto não escrevia aqui, comecei um caderninho de escrita terapêutica para acompanhar minhas sessões semanais, andei de patins na praça Arniqueiras, lá em Brasília, e dormi como não dormia desde que era adolescente e quase perdia a hora de ir para a aula de inglês que começava às quatro da tarde. Como era bom deitar depois do almoço, no sofá. Nos últimos quatro meses, consegui recuperar esse sono na casa da minha mãe.
Quem também ficou mais tempo do que imaginava na casa dos pais nesta pandemia?
Enquanto pensava num recomeço, me dei conta de que para todas as coisas que não podemos recomeçar, como uma prova de ginástica rítmica, há milhares que podemos. E, ainda que seja chato recomeçar algo pela milésima vez, há uma leveza em saber que quase sempre é possível começar de novo, se quisermos.
Aquela positividade que não chega a molhar as canelas diz que todo novo dia é uma oportunidade de recomeço. Não acho que tem a ver com o dia seguinte em si, mas pode ter a ver com a noite de sono. Você também sente que descansar cura de alguma forma? Sinto isso desde que fui obrigada a ficar de repouso pela primeira vez. Além de receitar remédios, a médica foi muito clara sobre a importância de dormir para que o sistema imunológico produzisse mais células de defesa. Eu era meio frenética com trabalho naquela época e, às vezes, trabalhava de casa quando estava de atestado.
Dali para frente, o sono foi uma oportunidade de curar e um super poder, já que eu sempre tive facilidade de desligar o corpo e sonhar.
Quando eu morava num pensionato, lá em Caruaru, e dividia quarto com umas cinco meninas, elas sabiam que tinham que falar comigo antes de eu encostar a cabeça no travesseiro porque eu apagava em segundos. Se você também é assim, esse pode ser seu super poder.
Dormir bem me ajudou a curar ressaca, decepção, dor de cotovelo, lesão muscular, acidentes domésticos e até uma cirurgia quando quebrei a mão. Mas é dormir bem mesmo, tá? Não é ficar para sempre na cama, porque aí tem algo de errado também. Aqui tem especialistas falando sobre o assunto.
A pessoa que não sou mais
Foi a pandemia que me tirou da rotina de acordar cedo para chegar ao trabalho às 9h, minimamente maquiada e pronta para um dia estressante e com pausa para almoçar e desabafar sobre problemas que nunca são resolvidos.
Depois, confinada e trabalhando de casa, a rotina mudou. Mas, ainda assim, seguia densa, carregada. Teve uma noite que cancelei minha aula de canto online porque me ligaram do trabalho às oito da noite. A aula de canto era o meu jeito de conseguir sair do escritório que invadiu minha sala, minha cozinha, minha varandinha.
Ainda bem que o quarto escapou.
Falando em dormir
Estou lendo Meu ano de descanso e relaxamento (Ottessa Moshfegh). O livro é contado por uma mulher jovem, bonita e com uma boa reserva de dinheiro que resolve passar um ano inteiro hibernando. Ela acredita que dormir por um ano vai deixá-la revigorada para viver uma vida melhor. O livro tem um humor ácido e fala sobre como lidamos com pessoas e atitudes que detestamos ao invés de simplesmente não aceitá-las. A linguagem é leve, mas a história não é. E apesar de ser meio depressivo ver uma mulher de vinte e poucos anos dopada de remédios, as reflexões são interessantes. Conto mais quando terminar.
brunch note
Vontade de ir na padaria e pedir um sonho.
O maior que tiver, por favor.
Pra agora, moço.Sonho a gente não deveria embalar pra viagem.
Bom domingo e até semana que vem 🥑✨
Tássia
Este conteúdo é livre de publicidade, considere apoiar ou compartilhar.
Que bom saber que eu te ensinei alguma coisa nesse tempo mágico que estivemos juntas! ✨ Da vontade de rebobinar para viver de novo e tentar aproveitar mais.