Esta é uma newsletter semanal para mulheres. Sem correria, para não derrubar o drink.🍸Nosso manifesto é se divertir, ser o mais feliz que dá e abrir espaço para criatividade.
EDITORIAL
Na epidemia de solidão, recuso-me a ficar sozinha. 1 a cada 4 adultos se sente só.
Minha irmã é extrovertida e era ela quem chamava uma amiguinha para brincar. Adulta, mudei de cidade, de carreira e depois de país — e aí, fui obrigada a forçar a barra para conhecer pessoas. Apesar de introvertida, gosto de ter gente por perto.
Este texto é baseado na minha experiência fazendo amigas em cada lugar novo que cheguei — mudei de cidade 7 vezes e hoje moro na Finlândia, longe de tudo que conheci.
Recém-chegada num país novo, pensava sobre detalhes de como me portar. Mulheres apertam a mão, o abraço vem bem depois. Falar “bom te ver” ao invés de perguntar se está tudo bem, exceto se quiser ouvir uma história longa sobre como a pessoa está. Uma vez, paguei o almoço de uma amiga porque ela organizou nosso roteiro de viagem. Ela achou estranhíssimo, tive que aceitar o dinheiro de volta. Aqui as pessoas te devolvem cada centavo. Cuido das palavras para não parecer mal-educada por questões culturais. Fazer amizades no segundo idioma tem atrito. Em contrapartida, a experiência de conhecer brasileiras expatriadas tem sido maravilhosa.
TEM A VER, MAS NÃO É ISSO
Acho que as pessoas acharam que sou doida quando contei que fui abduzida. É claro que não acredito que extraterrestres tentaram me capturar, isso só acontece nos Estados Unidos. Porém, ninguém encontrou uma explicação plausível para o fato de que realmente me senti assim:
O PANO DE FUNDO
Sempre me senti estranha para fazer amigas. Batia uma timidez, um desconforto.
É que gente muito normal me assusta. Não confio em quem não abre uma janelinha de vulnerabilidade. Conecto com quem assume a crise de ansiedade e sai correndo para não chorar na frente das pessoas. Somos humanas em tempos estranhos e o corpo fica confuso. Realidade virtual corporificada. O mundo tá esquisito demais para fingir neutralidade.
Esse é meu primeiro filtro: ser de verdade, conversas profundas, coração partido, morrer de vergonha, admitir que se sentiu muito bem quando conquistou algo, não se imaginar merecedora, superar. Quase terapia coletiva, eu sei.
No entanto, não é sempre assim.
Semana passada fui à casa de uma amiga fazer artesanato. Faço coisinhas de feltro, outras fazem tricô, outras fazem crochê. Conversamos abobrinhas, trocamos receitas, discutimos estratégias para ajudar a moça que quer arrumar um namorado, dica de série e como piratear filmes. Rimos alto. É bom demais, e melhora quando alguém espirra na mesa uma mensagem direto da alma: queria largar tudo e virar dondoca por uns anos, aproveitar para descobrir o que eu amo fazer. Não sei se meu marido faria isso por mim. Uma tensão boa. Os fios invisíveis transmitem confiança entre o grupo.
Mas onde encontro essas pessoas?
Antes de se perguntar onde as pessoas estão, repare onde você está.
Onde você se esconde das suas novas amigas?
Às vezes, é no excesso de trabalho remoto, às vezes é no relacionamento amoroso, às vezes é fora das redes sociais, às vezes é no grupo de amigos que não tem nada a ver, mas é o que tem. Às vezes, é indo a todos os eventos da família, às vezes é de trás de uma agenda lotada para não pensar no fato de que você se sente sozinha.
A indiferença e a falta de carisma podem até ser cool na internet. Na vida real, manter-se ativa e conhecendo pessoas novas é bom para a saúde das mulheres e ruim para o patriarcado. Que me perdoe Clarice Lispector, mas ser blasé é cafona demais. Saiu de moda. Clarice fica, a indiferença sai.
Que me perdoe Clarice Lispector, mas ser blasé é cafona demais. Saiu de moda.
Clarice fica, a indiferença sai.
Como encontrar pessoas
TECNOLOGIA E REDES SOCIAIS 👾
O Bumble tem até uma funcionalidade “BFF” — na época que testei, não rolou. Se você quiser que eu teste e conte como foi, responda a este e-mail. Por ora, uso o Instagram para fazer amigas. Sigo as pessoas que a ferramenta indica, ou amigas de amigas. Outro jeito é ir para eventos, cursos e workshops com tópicos que lhe interessam. Depois, você pode seguir quem postou com hashtag ou na localização. Uma amiga conheceu uma moça maravilhosa com essa dica. Parece técnica de stalker, eu sei.
Na rede social rola a paquera. Você curte as fotos, descobre se têm algo em comum, comenta, manda mensagem, e chama para um café. “Também amo essa banda” pode ser o começo de uma amizade. Se a pessoa não puder no dia, é só perguntar quando ela pode. Se não responder mais, tudo bem, parte para outra.
CUPIDO DE AMIZADE 💘
Ao invés de “tenho um amigo solteiro para te apresentar” que tal “tenho uma amiga que também quer aprender francês, segue ela no Instagram”. Essa é uma corrente boa para encaminhar agora mesmo.
Energia e dinheiro para novas amizades
Conhecer pessoas custa dinheiro e energia. É bom ser esperta, se respeitar, dizer sim só para o que faz sentido. Quando comecei o Secret Club, queria fugir daqueles meet-ups patrocinados por empresas, onde te ensinam algo pela metade e te dão sanduíche de metro. Já fui em alguns legais, só que o ambiente de trabalho não me deixa à vontade.
Vá onde se sente bem. Pode ser na aula de dança, de ciber segurança, ou corte e costura. Às vezes, é mais fácil fazer amizades quando estamos sozinhas. Porém, se precisar de um empurrão e tiver alguém para te acompanhar, dê a chance.
⚠️ E aqui cabe um alerta: quando a gente tem uma colega do trabalho ou uma prima que pode ir junto, podemos questionar: ué, mas eu tenho a fulana. Não confunda. Pessoas que gostamos não são necessariamente a nossa turma. Descarte a culpa de querer novas amigas só porque já tem companhia. Você merece amigas que despertam o que você gosta de sentir.
O santo tem que bater. Não force a barra.
Para encontrar as amigas certas, precisamos ser honesta e “perder” as que não nos fazem sentir bem. Tome nota sobre como se sente com cada pessoa. Uma palavra basta: criativa, autêntica, drenada, deslocada, grande, pequena, confusa, inapropriada, feliz, grata, divertida, etc.
O brunch é um ponto de encontro. Espero que nossa amizade virtual te inspire a buscar o estilo de vida que te faz feliz.