Eu comprei um microfone e coloquei o texto de hoje no Spotify — é mais difícil fazer sentido por voz. Mas, seguirei falando.
Deixa eu pesquisar aqui um jeito fofo de falar "não, obrigada"
Eu estava na quinta série, tinha 11 anos. Era uma criança que já chamavam de mocinha. Não era a menina bonita da turma, não era a feia. Nada de mais. No colégio católico, a religião era a única coisa que me fazia diferente: nunca me batizaram, embora estivesse lá fazendo o sinal da cruz e rezando Ave Maria diariamente antes da aula. O colégio era imenso — tinha quadra, parque, jardim, capela, missa e freiras vestidas com seus hábitos. Mal me lembro da biblioteca, lembro mais dos meninos — muitos traumas. E tinha um tal de Rodrigo que era muito feio.
Não tinha rede social.
Naquela época, os pedidos de namoro e mensagens de paquera chegavam por meio de fofoca, bilhetinho ou recado que alguém mandava dizer. Foi assim que recebi o pedido: Rodrigo perguntou se você quer namorar com ele. Que esquisito, eu nem conhecia o garoto. O mensageiro me apressou: “sim”, “não” ou “vou pensar”. Respondi que não e continuei brincando com as minhas amigas, até terminar o recreio.
Na hora da saída.
O menino feio me viu de longe e gritou “Tássia, vai tomar no c*!”. Fiquei confusa. Alguém gritou meu nome? Minhas amigas me explicaram o óbvio, porque eu fiquei estupefata. Fui direto para casa rezando para não cruzar com o menino feio de novo. Não entendia questões de masculinidade tóxica e socialização de meninos — mas sabia que o menino feio poderia se vingar. Me arrependi por não ter me protegido. Poderia ter dito que ia pensar e depois inventava uma desculpa. Poderia dizer que meu pai não deixava. E agora? Não tem como voltar, me coloquei em risco porque não pensei antes de falar. Maldito menino feio.
Anos depois, no Instagram.
Um menino que eu já tinha saído antes me chamou para sair. A resposta seria não. Lembrei do menino feio e disse que pesquisar um jeito fofo de dizer ‘não, obrigada’.
uma vez eu quase apanhei na saida da escola porque eu disse nao... lembrei disso agora lendo seu texto.
ah, e ouvi teu podcast todinho e amei. :)
O patriarcado nos deve muitas férias..