Mini guia de tarô para bruxas apressadas #1
Intuição, espiritualidade, preconceito com o tarô e uma demonstração prática de como uso as cartas para conversar com a minha intuição.
Dia desses vi uma pessoa usar a palavra “esoterismo” para depreciar o tarô. Coisa de gente mística, distante do intelectual, sem comprovação científica e, portanto, menor, bobo, charlatão, coisa de bruxinha feminista que acredita que pode amaldiçoar o patriarcado com palo santo, cristal e sal grosso. Confesso que me divirto quando vejo esses comentários, mas é um pouco arrogante da minha parte também. É que essas colocações me levam à caça às bruxas do jeito mais pictórico possível — mulher fazendo bruxaria: sai daqui.
Porém, sei que a raiz do preconceito não é rasa, simples e nem infundada. Num mundo cheio de charlatões e atividades fraudulentas, desconfiar é preciso. Até porque não é só o tarô que está infestado de pessoas mal intencionadas ou despreparadas se dizendo autoridade. As redes sociais estão cheias de gente assim. Você deve conhecer alguém da sua área que virou “influencer” e prestou desserviço ao público. Nutrição, educação física, psicologia e direito são as que consigo listar de cabeça. E, se tem gente criando conteúdo irresponsável sobre disciplinas regulamentadas por Conselhos profissionais, imagine o que as pessoas fazem com o tarô.
Acredito que o julgamento vem do preconceito racional — digo que acredito porque não fiz pesquisa e este texto aqui é uma conversa, não tem verdade escrita na pedra, vale salientar. E mais, as pessoas exageram no personagem, esquecem que tarô (ou astrologia) não dita nada na vida de ninguém — somos nós quem tomamos as decisões quando podemos, porque ainda tem um sistema capitalista nos empurrando a fazer coisas que não gostaríamos, levar uma vida diferente da que sonhamos. Mercúrio retrógrado não atrasa projetos e nem apaga os arquivos do seu computador. Sei que a Susan Miller avisou, mas não adianta jurar de pé junto. A culpa não está no sistema solar.
E por mais que eu não concorde com a ideia, o tarô está nesse pacote porque teoricamente ele tem raízes em práticas esotéricas e a intuição está sempre presente. Entretanto, entendo que, como dizia Carl Jung1, a intuição é uma função psíquica complementar ao pensamento racional. Ela origina-se no inconsciente coletivo, não é sobrenatural e pode ser desenvolvida e aprimorada por qualquer pessoa. A intuição não depende de espiritualidade, crença em algo divino. E, neste ponto, vale fazer uma separação entre a ferramenta e as pessoas.
O tarô é uma ferramenta de autoconhecimento que nos lembra de como o universo funciona. Cada carta é como um livro de histórias que traz abordagens, ideias, conceitos, atitudes, pensamentos, mitologias. Essas histórias são elaboradas entre si — embaralhando e sorteando as cartas — para criar uma resposta. O tipo de conexão estabelecida depende de quem faz a leitura. Um conselho intuitivo, ainda que traga percepções que transcendem a lógica convencional, não é necessariamente uma mensagem do mundo espiritual. O acordo está nas pessoas, não na ferramenta.
Uma situação hipotética para explicar como o tarô pode organizar ideias ou encorajar a fazer o que deseja. Repare.
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Vamos imaginar que você está querendo ser mais criativa no seu dia a dia. A pergunta poderia ser: Como posso ser mais criativa?
Concentrei, embaralhei e tirei três cartas representando: passado, presente e futuro.
No passado, a Sacerdotisa — uma mulher que sabe o que deseja porque conhece profundamente a si mesma.
No presente, o cavaleiro de ouros — uma pessoa responsável que cuida de assuntos materiais. Paciente, persistente, presta atenção aos detalhes e cavalga sem pressa, com cuidado para não derrubar a moeda que está carregando.
Por último, para o futuro, o Mago veio te lembrar de usar todas as ferramentas disponíveis para alcançar o que você deseja. Ele diz que está tudo disponível, é só se esticar para pegar.
As histórias são muito mais longas do que isso, mas com um trecho é possível começar uma conversa. Existia uma busca pela intuição no passado e que foi perdida? Ou uma pessoa intuitiva que estava por perto? Essa conversar vai ajudar a encontrar o que é relevante para a vida criativa de quem está no centro da leitura.
Sobre o presente, podemos pensar nas questões materiais com as lentes do cavaleiro de ouros e, depois, entender quais são as possibilidades que o Mago traz e que são também vontades ou possibilidades para o futuro da consulente.
Simples assim.
O que vemos nas cartas já existe dentro da gente — preocupação com dinheiro, vontade de se voltar à criatividade como fazíamos antes. Vontade de empreender. A gente enxerga o que já tem do lado de dentro.
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Os arcanos são conselheiros e, quando abro as cartas, estou convidando um deles a contar o que sabe. Sou eu que decido o que fazer com as informações. É por isso que muita gente fala que o tarô “tinha mostrado tudo” — essa sensação de que o tarô “adivinhou” é porque ele nos deu uma história para encaixar os fatos e as cartas representam sabedorias que são pertinentes. Tarô é reflexo da história da vida. Quando olhamos para uma tiragem em retroativo, fica mais fácil de compreender os fatos. Até se o jogo estiver totalmente diferente do que aconteceu, há aprendizado — isso acontece comigo de vez em quando.
Muitas pessoas podem usar o tarô como uma prática esotérica, mística, espiritual, que demanda fé, inclusive. Minha abordagem é centrada na intuição porque amo entender o que tem dentro de mim e descobrir meus sonhos, meus desejos, medos. Com o tarô vejo onde eu me saboto — me divirto com isso. Às vezes aprendo, às vezes sigo errando e tirando a mesma carta, como se o baralho fosse vivo, teimoso, esotérico, místico.
Talvez tenha mesmo um mistério, mas ele está disponível para quem quiser. É só chegar.
Um beijo &
até semana que vem.
— Tássia
Carl Jung foi um renomado psicólogo e psiquiatra suíço, considerado um dos pioneiros da psicologia analítica. Jung desenvolveu uma teoria abrangente da psique humana, que incluía conceitos como o inconsciente coletivo, os arquétipos, a individuação e os tipos psicológicos.
Amei a forma como apresentou a intuição e a forma como o tarô pode ser uma ferramenta a nosso favor 🌻
Eu adorei o raciocínio por traz do tarô, senti muita vontade de conhecer um pouco mais. Obrigada por compartilhar algo tão interessante, seu texto é uma delícia!
Um beijo!